Os responsáveis da União Europeia expressaram nesta sexta-feira (9) o seu temor por um atrasou ou, inclusive, um fracasso das negociações do Brexit, depois que a primeira-ministra britânica, Theresa May, não alcançou o seu objetivo de reforçar uma maioria absoluta no Parlamento.
"Não sabemos quando as negociações do Brexit começarão. Sabemos quando devem terminar. Façam o possível para evitar um 'não acordo' como resultado de uma 'não negociação'", resumiu o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, em um tuíte postado pela manhã.
A primeira-ministra britânica convocou eleições antecipadas em abril com o objetivo de se fortalecer diante das negociações do Brexit, apoiada na ampla vantagem mostrada nas pesquisas.
Os europeus participaram desta convocação antecipada já que, em seu julgamento, uma líder com um forte apoio eleitoral em Londres estaria em condição de fazer concessões a seus sócios durante as complexas negociações do Brexit.
Entretanto, depois que May não alcançou o seu objetivo, ficando com oito cadeiras a menos do que a maioria absoluta, o povo mostrou a sua preocupação com o impacto deste resultado nas negociações, que pode começar em 19 de junho.
Após se reunir com a rainha Elizabeth II e anunciar a formação de um novo governo, a primeira-ministra, que recebeu um pedido de renúncia do fortalecido líder da oposição, tentou diminuir as incertezas logo no começo da tarde.
"Este governo guiará o país nas cruciais negociações do Brexit, que começam em 10 dias", assegurou May, a quem o presidente do Conselho Europeu respondeu: "não há tempo a perder". "Nossa responsabilidade agora é garantir o Brexit menos perturbador", acrescentou Tusk.
As advertências sobre um "não acordo" não são fúteis. Durante a campanha eleitoral, o ministro britânico para o Brexit, David Davis, ameaçou deixar a mesa de negociação e destacou que em caso de um saída da UE sem acordo "não haverá nada a pagar".
O tema financeiro aparece como um dos mais complexos no processo de divórcio, principalmente quando as estimativas desta fatura a ser paga por Londres oscilam entre 50 e 100 bilhões de euros. Os direitos dos cidadãos europeus no Reino Unido é outro dos assuntos sensíveis.
E sem progresso nestes aspectos e sobre a fronteira na ilha da Irlanda, os 27 se negam a começar a discutir o futuro marco de relações com o Reino Unido, que poderia incluir um acordo de livre-comércio como Londres quer.
"Unamos os nossos esforços para fechar um acordo [de separação]", reiterou o negociador europeu, Michel Barnier, que deixou entrever que estavam dispostos a dar um tempo a Londres para se preparar antes do início das negociações.
Um governo britânico fraco pode conduzir a negociações "ruins" sobre o Brexit para ambas as partes, indicou durante a manhã o comissário europeu de Orçamento, Günther Oettinger. May anunciou que buscará o apoio dos unionistas da Irlanda do Norte para alcançar a maioria.
Os europeus, que desde o fim de abril já estãom dispostos a negociar, não querem atrasar mais este complexo processo ativado em 29 de março e que deve se concretizar em março de 2019.
"O tempo continua correndo", nas palavras do líder dos eurodeputados do PPE, Manfred Weber, para quem May levou "o caos a seu país" no lugar da "estabilidade".
De Praga, o presidente do Executivo comunitário, Jean-Claude Juncker, desejou que "o resultado das eleições não tenha um grande impacto nestas negociações, que esperamos desesperadamente".
O referente da Eurocâmara para o Brexit, o influente deputado liberal Guy Verhofstadt, lamentou um cenário cada vez mais complicado de separação.
"Outro gol contra, depois de Cameron, agora May fará com que as negociações sejam ainda mais complicadas", tuitou Verhofstadt, em referência ao ex-primeiro-ministro britânico David Cameron que convocou o referendo de junho de 2016, no qual os britânicos optaram por sair da UE.