O grande incêndio registrado entre a noite de terça-feira e a madrugada desta quarta-feira em um edifício de moradias sociais da zona oeste de Londres deixou pelo menos doze mortos e provocou muitas críticas dos moradores ao que consideram uma gestão ineficiente do imóvel.
Das 78 pessoas hospitalizadas, 18 delas estão em estado crítico, e muitas estão desaparecidas, o que pode elevar o balanço de vítimas.
"Esta será uma complexa operação de busca de vários dias", afirmou em um comunicado Stuart Cundy, comandante da Polícia Metropolitana.
Sobreviventes da tragédia relataram que viram pessoas caindo ou pulando da torre residencial de 120 apartamentos e 24 andares.
Outras testemunhas contaram à agência britânica PA que viram pais jogando os filhos pelas janelas na direção de pessoas que estavam nas ruas, em uma tentativa desesperada de salvar as crianças das chamas.
"Escutei gritos de todos os lados e vi pessoas pulando pelas janelas. As chamas devoravam a torre. Um horror", contou à AFP Khadejah Miller, que mora em um edifício próximo e que foi esvaziado pelas autoridades por medida de precaução.
Ao meio-dia desta quarta-feira, a Torre Grenfell, construída em 1974, estava completamente destruída pelas chamas. Muitas horas depois do início do incêndio ainda era possível observar o fogo em alguns pontos do edifício.
A comandante do Departamento de Bombeiros de Londres, Dany Cotton, descartou a possibilidade de desabamento e afirmou que uma equipe de engenheiros inspecionava as bases do imóvel.
"Em 29 anos de carreira, nunca tinha visto nada dessa magnitude", declarou, afirmando que as causas do incêndio ainda não foram estabelecidas.
Vinte ambulâncias foram enviadas para levar os feridos para seis hospitais de Londres.
As causas do incêndio são desconhecidas, mas os moradores já criticavam a má gestão da empresa que administrava o prédio.
"Quase 90% dos residentes assinaram no fim de 2015 uma petição que reclamava da má gestão da empresa responsável pela manutenção do edifício. O administrador me ameaçou pessoalmente", disse David Collins, presidente da associação de moradores da torre até outubro do ano passado.
"Escutei que alguns alarmes de incêndio não funcionaram, não me surpreende. Estou consternado, mortificado, mas não surpreso", completou à AFP.
David Collins também apontou a responsabilidade do governo do bairro de Kensington e Chelsea.
"Informamos nossas preocupações e pedimos uma investigação independente, mas não nos ouviram", lamentou.
De acordo com documentos divulgados na internet, alguns moradores reclamaram em várias ocasiões nos últimos anos do estado do edifício e dos possíveis riscos de incêndio.
"Ninguém quis levar em consideração nossas advertências, uma catástrofe como esta era inevitável", publicou em seu blog o Grupo de Ação de Grenfgell após a tragédia.
Nana Akuffo, morador de um prédio próximo, disse que os problemas "teriam sido solucionados" se estivessem no bairro chique de Knightsbridge.
De acordo com vários moradores, os trabalhos de reforma do ano passado podem ter favorecido a propagação do fogo, extremamente rápida.
O organismo público KCTMO (Kensington & Chelsea Tennant Management Organisation), que administra o prédio, reconheceu em um comunicado "estar ciente das preocupações de longa data dos moradores". "É cedo para especuliar as causas do incêndio", acrescenta.
Uma reforma, no valor de 8,6 milhões de libras (12 milhões de dólares), terminou em maio de 2016. A empresa Rydon, encarregada da obra, assegurou que a reforma "respondeu a todas as exigências em questão de normas de incêndio, de segurança e de construção".
Salah Chebiouni, 45 anos, que conseguiu sair do prédio, disse à AFP que o local cheirava a "plástico queimado". Ao falar sobre as obras recentes de reforma, afirmou: "Parecia metal, e eu pensei que haviam feito algo sólido. Na verdade era plástico".
"Ao que parece, como em outros casos de incêndio ao redor do mundo, a natureza do revestimento externo é responsável pela rapidez de propagação do fogo", disse Angus Law, especialista da Universidade de Edimburgo.
Gavin Barwell, novo chefe de gabinete da primeira-ministra Theresa May e ex-ministro da Habitação, foi acusado pelo jornal The Daily Mirror de ter arquivado, há alguns anos, um relatório que apontava o risco de incêndio em edifícios como a torre Grenfell.
O prefeito de Londres, Sadiq Khan, declarou que os testemunhos provocam "perguntas que aguardam respostas", enquanto o líder da oposição trabalhista Jeremy Corbyn estimou que as medidas de austeridade do governo conservador tinham sua parcela de culpa: "Se você retira das autoridades locais os financiamentos que necessita, este é o preço a pagar".
Um porta-voz de Downing Street declarou que May estava "profundamente entristecida com a trágica perda de vidas na torre Grenfell".
Vários sobreviventes criticaram a recomendação de permanecer em seus apartamentos.
"Se tivéssemos seguido este conselho estaríamos mortos", afirmou Nicky Paramesivan à BBC.