Incêndio não dá trégua em Portugal

Mais de mil bombeiros prosseguiam nesta quarta-feira (21) em uma luta contra o gigantesco incêndio que começou no sábado (17)
AFP
Publicado em 21/06/2017 às 10:23
Mais de mil bombeiros prosseguiam nesta quarta-feira (21) em uma luta contra o gigantesco incêndio que começou no sábado (17) Foto: Foto: PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP


Mais de mil bombeiros prosseguiam nesta quarta-feira em uma luta sem trégua contra o gigantesco incêndio que afeta a região central de Portugal desde sábado, enquanto os funerais das primeiras vítimas provocavam grande comoção no país.

O incêndio em Pedrógão Grande "está sob controle", isto é, contido mas não extinguido, segundo explicou o comandante regional da Defesa Civil, Vitor Vaz Pinto.

Contudo, o "fogo reavivou fortemente" em alguns pontos em razão do vento nos arredores do município de Gois, mais ao norte, onde se encontram os principais focos, de acordo com o responsável local da Defesa Civil, Carlos Tavares.

Dezoito pessoas ficaram feridas nesta área, principalmente por um intoxicação. 

No início da manhã, os aviões sobrevoavam Pedrógão Grande e liberavam água sobre as chamas que devastam as colinas de pinheiros e eucaliptos, perto da pequena localidade de Pincha, onde o incêndio permanece ativo. 

A agência meteorológica portuguesa anunciou condições mais favoráveis para o combate ao fogo, com temperaturas que não devem superar 35 graus Celsius, oito a menos que na terça-feira, e uma umidade relativa do ar maior que nos dias anteriores. 

Quase 1.200 bombeiros, 400 veículos e 13 aviões estão mobilizados na região de Pedrógão Grande para enfrentar as chamas.

Pista criminosa 

Na terça-feira, o incêndio parecia estar sob controle quando ganhou força de repente, o que obrigou as autoridades a esvaziar quase 40 aldeias ameaçadas pelas chamas.

O presidente da Liga dos Bombeiros relançou a hipótese de causa criminosa do incêndio, embora a polícia tenha descartado desde domingo esta pista, dando prioridade a uma tempestade seca.

"Acredito que até que se prove o contrário, (...) a origem do incêndio é criminosa", declarou à imprensa Jaime Marta Soares. Segundo ele, "o incêndio começou duas horas antes" da tempestade.

"O país exige respostas claras à dúvidas legítimas" sobre a origem da tragédia, reagiu o presidente do Parlamento, Eduardo Ferro, durante sessão dedicada às vítimas da tragédia. 

Enquanto isso, as autoridades locais estão preocupadas com a recusa de alguns habitantes de abandonar suas residências. Este é o caso de vários moradores entrevistados pela AFP. 

"Temos que proteger as casas. Vim ajudar meus amigos que moram aqui", afirmou Sonia Pereira, de 29 anos. 

Desde o início no sábado, o incêndio provocou 64 mortes e deixou mais de 200 feridos, segundo um balanço atualizado. 

Os primeiros funerais de vítimas aconteceram na terça-feira, perto de áreas onde as chamas continuam provocando estragos. Uma multidão comovida se reuniu na aldeia de Sarzedas de São Pedro para a despedida de seis pessoas que morreram nas proximidades. 

"Mártires", afirma em sua manchete o jornal Correio da Manhã, ao lado de fotos de parentes desesperados perto de fotos das vítimas, incluindo crianças. 

As cerimônias prosseguem nesta quarta-feira e o país respeitou um minuto de silêncio às 13H00 local (9H00 de Brasília), a pedido do presidente da Assembleia Nacional, Eduardo Ferro Rodrigues, que pediu aos portugueses "coesão no momento de grande dor". 

Identificação complicada 

Os agentes trabalhavam para tentar identificar os cadáveres, um processo muito difícil em consequência do avançado estado de carbonização. Apenas metade das vítimas foram identificadas até o momento. 

A imprensa continua tentando compreender as circunstâncias da tragédia na "estrada da morte", a nacional 236, onde 47 pessoas morreram no sábado, bloqueadas pelo fogo. 

O primeiro-ministro Antonio Costa exigiu "explicações rápidas" à polícia, acusada por alguns sobreviventes de ter direcionado para esta estrada um grupo de pessoas que tentava fugir das chamas. 

Costa afirmou, no entanto, que no momento "não há provas de um erro dos agentes". 

O tempo de reação dos serviços de emergência a partir da informação do incêndio no sábado ainda provoca debate.

De acordo com o jornal Público, as unidades da Proteção Civil demoraram quase duas horas para ajudar os bombeiros locais a partir do momento do alerta. 

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