Dois relatórios descreveram, nesta quinta-feira (16), as "evidências crescentes" de genocídio contra os muçulmanos rohinyas em Mianmar, enquanto a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Geral da ONU adotou uma resolução que exige o fim dos ataques contra esta minoria.
As forças de segurança de Mianmar cortaram as gargantas de muçulmanos rohinyas, queimaram suas vítimas vivas e estupraram coletivamente mulheres e meninas, apontaram os relatórios.
A ONG Human Rights Watch (HRW) concentrou seu relatório no uso da violência sexual durante a campanha militar contra os rohinyas, e concluiu que os ataques foram crimes contra a humanidade.
"O estupro foi uma proeminente e devastadora ferramenta da campanha militar birmanesa de limpeza étnica contra os rohinyas", disse Skye Wheeler, pesquisador da HRW e autor do relatório.
"Os atos barbarescos de violência dos militares birmaneses deixaram um número incontável de mulheres e crianças brutalmente feridas e traumatizadas", assegurou.
Um relatório separado, elaborado pelo Holocaust Memorial Museum americano e pela organização com sede no sudeste asiático Fortify Rights, documenta "ataques disseminados e sistemáticos" a civis rohinyas entre outubro e dezembro do ano passado, e desde agosto deste ano.
O relatório de 30 páginas, intitulado "Tentaram matar todos nós", foi baseado em mais de 200 entrevistas a sobreviventes e testemunhas, além de membros de organizações de ajuda internacional.
Alguns líderes mundiais e a ONU já qualificaram a campanha militar birmanesa contra os rohinyas como "limpeza étnica".
As evidências reunidas pela Fortify Rights e pelo Holocaust Museum mostra que "as forças de segurança de Mianmar e perpetradores civis cometeram crimes contra a humanidade e limpeza étnica", durante duas ondas de ataques nesta nação majoritariamente budista, segundo o relatório.
"Há evidências crescentes para sugerir que estes atos representam um genocídio da população rohinya", assegura.
A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Geral da ONU adotou, também nesta quinta-feira, uma resolução não vinculativa contra os ataques birmaneses aos rohinyas, apesar da oposição da China, Rússia e outros países vizinhos.
A resolução destaca "a preocupação muito alta" dos países-membros com a violência e "os recursos de força desproporcionais" das autoridades birmanesas contra os rohinyas.
O texto foi adotado por 135 votos a favor e 10 contra, com 26 abstenções. Os 57 países-membros da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) apoiaram a resolução.
Os 10 países que votaram contra foram Rússia, China, Camboja, Filipinas, Laos, Vietnã, Síria, Zimbábue, Bielorrússia e Mianmar.
Para a Human Rights Watch, a votação envia "uma mensagem forte à Mianmar de que o mundo não descansará até fazer ver que seus militares estão realizando uma limpeza étnica contra os rohinyas".
O texto, que será examinado em sessão plenária pela Assembleia Geral no mês que vem, também pede que o secretário-geral da ONU nomeie um enviado especial a Mianmar.
Quase 700.000 rohinyas, mais da metade da população do estado de Rakhine, foram deslocados à força desde outubro do ano passado, quando o exército de Mianmar começou "as operações de limpeza", após um grupo desconhecido atacar e matar agentes de segurança.