"A eutanásia é sempre ruim", mas é perfeitamente "lícito" para um paciente decidir abandonar cuidados terapêuticos que prorrogam a vida de uma forma que é pouco humana, reiterou nesta quinta-feira (16) o papa Francisco.
Em uma carta à Associação Médica Mundial (AMM, por sua sigla em inglês), reunida sobre este tema em um encontro europeu na Cidade do Vaticano, o papa julgou "positivos" os avanços na medicina permitindo prolongar a vida e eliminar muitas doenças.
Mas ressaltou um porém: "apelo a uma maior sabedoria, em razão da tentação de insistir em tratamentos que têm efeitos poderosos sobre o corpo, mas que às vezes não servem ao bem-estar integral da pessoa".
Para o papa argentino, que ecoou uma declaração da Igreja sobre a eutanásia que remonta a 1980, "é moralmente legal desistir ou parar os cuidados terapêuticos quando seu uso não atende aos padrões éticos e humanísticos". "Isso é o que chamamos de 'a justa proporção no uso de medicamentos'".
Essa decisão reconhece "os limites da nossa mortalidade" e a ideia de que a oposição à morte é "fútil". Ela também coloca em primeiro plano o "acompanhamento aos doentes terminais", refletido na abordagem médica de "cuidados paliativos" e na solidariedade da família, ressaltou o papa.
"É claro que o fato de não adotar ou interromper medidas desproporcionais significa evitar tratamento médico exagerado, eticamente é completamente diferente da eutanásia, que é sempre ruim", disse Francisco.
O papa aproveitou a oportunidade para destacar a crescente desigualdade no acesso a onerosos cuidados médicos avançados, que diz respeito a "segmentos da população cada vez mais limitados e privilegiados".
A mensagem foi lida para uma centena de especialistas médicos de trinta países, reunidos até sexta-feira em uma sala de reuniões.
Em suas diretrizes, a Associação Médica Mundial considera a eutanásia médica (praticada por um médico) e o suicídio assistido (praticado por um paciente) como antiético, uma escolha moral próxima da Igreja.
No entanto, duas associações médicas nacionais - as da Holanda e do Canadá - desejam, em particular, retirar essa menção.