ONU investiga ataques químicos sírios e ações contra rebeldes prosseguem

ONU exigiu fim imediato das 'hostilidades' durante um mês mas Damasco ignorou pressão internacional
AFP
Publicado em 06/02/2018 às 12:28
ONU exigiu fim imediato das 'hostilidades' durante um mês mas Damasco ignorou pressão internacional Foto: Foto: AFP


Pelo menos 47 civis, incluindo 10 crianças, foram mortos nesta terça-feira (6) em ataques aéreos sírios contra um encrave rebelde perto da capital, enquanto Damasco ignora a pressão internacional após ser acusada de ataques químicos.

No plano humanitário, a ONU exigiu o "fim imediato das hostilidades" durante pelo menos um mês em toda Síria para ajudar as populações sitiadas.

Hoje (6), a força aérea síria atacou o reduto rebelde de Guta Oriental, informou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), indicando que, além das 47 vítimas fatais, "ao menos 19 pessoas estão sob os escombros".

"O número de mortos nesta terça-feira pode aumentar devido à presença de pessoas presas sob os escombros e feridos em estado crítico", declarou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.

Na localidade de Saqba, um correspondente da AFP viu socorristas tirando dos escombros uma menina com o rosto coberto de sangue. Depois foi a vez de uma senhora.

E, em Kafr Batna, um mercado localizado próximo de uma escola foi completamente destruído. No necrotério de um hospital, uma mulher soluçava em lágrimas ao reconhecer o corpo do marido.

Sitiada desde 2013 pelas forças do regime, Guta Oriental é alvo quase diário de bombardeios, e seus 400 mil habitantes vivem uma séria crise humanitária, com escassez de alimentos e remédios.

Nas últimas semanas, o regime intensificou seus ataques em Guta Oriental e na província de Idlib, outro reduto da rebelião no noroeste da Síria.

Na segunda-feira, 31 civis morreram em ataques do regime contra Guta Oriental, um reduto rebelde cercado desde 2013 pelas forças de Damasco.

Ataques químicos

Estas duas regiões fazem parte das quatro zonas de distensão estabelecidas na Síria para obter uma trégua nos combates, enquanto a guerra que assola o país desde 2011 já fez mais de 340 mil mortos.

A violência "nessas chamadas áreas de desescalada soa como zombaria", denunciou nesta terça-feira uma comissão da ONU encarregada de investigar os crimes de guerra cometidos na Síria.

"Nas últimas 48 horas, a escala e a ferocidade dos ataques aumentaram dramaticamente", lamentou.

A comissão também anunciou que investiga ataques químicos pelo regime em Saraqeb, cidade na província de Idlib, onde 11 casos de asfixia foram relatados, mas também em Guta Oriental.

Em 22 de janeiro, o OSDH já havia relatado a ocorrência de 21 desses casos em Guta, enquanto moradores e fontes médicas relataram um ataque com gás cloro.

O regime nega utilizar armas químicas.

Na segunda-feira, em uma reunião do Conselho de Segurança, Washington tentou aprovar um projeto de declaração condenando o uso de armas químicas na Síria. Moscou quis alterar o texto, porém, especialmente para não mencionar Guta, sem ser capaz de obter o acordo americano.

Há "evidências claras" para confirmar o uso de cloro nesses ataques em Guta Oriental, garantiu a embaixadora americana nas Nações Unidas, Nikki Haley.

Sua homóloga russa, Vassily Nebenzia, denunciou uma "campanha de propaganda" destinada a "acusar o governo sírio" de ataques dos quais "os perpetradores não foram identificados".

Lamentando "uma situação extrema", representantes de diferentes agências da ONU em Damasco pediram nesta terça-feira "o fim imediato das hostilidades por pelo menos um mês em toda a Síria", segundo um comunicado.

O objetivo é "permitir a distribuição de ajuda humanitária, a evacuação de feridos e doentes em estado crítico e aliviar o sofrimento" dos civis, ressalta o comunicado.

"A equipe humanitária das Nações Unidas na Síria alertou para as consequências desastrosas de um agravamento da crise humanitária em várias regiões do país", completou a nota.

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