O governo sírio retomou nesta sexta-feira (6) os bombardeios contra o último reduto rebelde em Ghuta Oriental, na região de Damasco, deixando ao menos 40 civis mortos, após uma interrupção de 10 dias e o fracasso das negociações para evacuar as milícias ainda presentes.
As divisões internas da milícia Jaish al-Islam, cuja ala dura se recusa categoricamente a deixar a cidade de Duma, impediram concluir nesta quinta-feira um acordo para evacuar a região.
Os bombardeios mataram aos menos 40 civis, entre eles oito crianças, e 50 ficaram feridos, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
"Os mortos chegam ao hospital em pedaços, não podemos nem identificá-los. Há mais de 20 feridos, muitos deles em estado crítico", indicou um médico de um hospital local.
De acordo com a agência oficial de notícias Sana, a Força Aérea síria realizou bombardeios em represália aos "disparos de foguetes" dos rebeldes contra "vários bairros residenciais nos arredores de Damasco, que mataram uma pessoa e feriram outras 15".
Mas um porta-voz da milícia rebelde, Hamza Bayraqdar, negou em uma declaração nesta sexta-feira à noite os disparos de foguetes contra um subúrbio de Damasco. Nos arredores de Duma, as forças sírias avançam para os terrenos que rodeiam a cidade, indicou a Sana.
No sudeste e no leste da cidade foram registrados violentos confrontos entre as forças do governo e os combatentes do Jaish al-Islam, indicou o OSDH.
No dia anterior, cerca de 20 ônibus fretados pelo governo entraram em Duma, mas voltaram atrás. Este foi o quarto comboio depois de três dias consecutivos de evacuações em que cerca de 3.000 combatentes e civis foram transferidos para o norte da Síria.
O grupo islâmico Jaish al-Islam, que ainda controla Duma, nunca confirmou ter concluído um acordo de evacuação. Segundo o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman, "dos 10.000 combatentes do Jaish al-Islam, mais de 4.000 se recusam a sair".
O governo havia acordado evacuações com dois grupos rebeldes de Ghuta Oriental, Ahrar al-Sham e Faylaq al-Rahman, depois de cinco semanas de bombardeios nos quais morreram cerca de 1.600 civis, segundo o OSDH.
Diante da reticência do Jaish al-Islam, Damasco enviou reforços para o entorno de Duma e não excluiu retomar a ofensiva para dobrar os rebeldes.
"Estes bombardeios pavimentam o caminho para uma operação terrestre. As negociações falharam e o governo agora quer impor suas condições. Estes bombardeios antecipam o que poderia acontecer se não aceitarem as condições do regime", explicou Nawar Oliver, especialista em Síria do think tank Omran, com sede na Turquia.
"Mas há sempre a possibilidade de o Jaish al-Islam aceitar um acordo no último minuto e evitar a operação militar", acrescentou. O grupo islâmico estaria buscando um acordo de reconciliação que permitisse sua permanência em Duma como uma força policial. Os moradores, dos quais 22 mil já fugiram da cidade, aguardam.
"Há muita confusão. Não sabemos para onde estamos indo", confidenciou à AFP Mohamad, de 20 anos, poucas horas antes do início dos bombardeios. Mais de 46 mil combatentes e civis já foram evacuados do enclave rebelde de Ghuta.