Turismo de massa pode ser maldição para praias paradisíacas do sudeste

Autoridades estudam novas regras como cota de turistas nas praias e o fechamento na baixa temporada
AFP
Publicado em 16/04/2018 às 10:00
Autoridades estudam novas regras como cota de turistas nas praias e o fechamento na baixa temporada Foto: Foto: AFP


Todos os dias, hordas de turistas com seus paus-de-selfie desembarcam na praia de Maya Bay, na ilha paradisíaca de Koh Phi Phi, na Tailândia, que foi o cenário do filme "A Praia", protagonizado por Leonardo DiCaprio.

"Há gente demais aqui", lamentou o marroquino Saad Lazrak, de 61 anos, em meio à multidão que invade a pequena praia rodeada por formações geológicas impressionantes.

"Não há nenhum lugar na praia onde não tenha alguém tirando fotos", acrescentou Oliver Black, outro turista, de 22 anos.

Os guarda-parques tentam regular o ir e vir das lanchas que chegam sem parar a Maya Bay, carregadas de turistas. 

As autoridades estimam que cerca de 4.000 turistas chegam diariamente a esta zona conhecida por suas águas cristalinas, mas ficam apenas alguns minutos e depois entram em uma das muitas lanchas ofertadas pelos operadores turísticos da região. 

Mas esta imagem tem os dias contados, asseguraram as autoridades tailandesas, já que a Maya Bay vai ser fechada em junho, até setembro, para "permitir que o ecossistema se regenere", afirmou Songtham Suksawang, diretor de Parques Nacionais.

Fenômeno regional

Em todo o sudeste asiático se repete este mesmo fenômeno de sobrepopulação turística nas praias, que tem um impacto sobre o frágil ecossistema das ilhas.

Nas Filipinas, as autoridades vão proibir durante seis meses, a partir de 26 de abril, a entrada dos turistas na ilha de Boracay.

O presidente Rodrigo Duterte comparou esta ilha, à que chegam a cada ano dois milhões de visitantes (e que gera rendimentos de um bilhão de dólares) a uma "fossa séptica", já que seus 500 hotéis são acusados de jogar as águas residuais diretamente no mar - uma prática amplamente compartilhada em todo o sudeste asiático. 

Na Indonésia, as autoridades foram as primeiras a lançar um alerta, no ano passado, sobre a situação em seis quilômetros da costa em Bali, repleta de resíduos. 

Esta crise ambiental também se tornou viral em março, depois da difusão de um vídeo do mergulhador britânico Rich Horner que mostrava as águas cheias de plásticos. 

"Sacolas de plástico, mais sacolas de plástico, plástico, plástico, tanto plástico!", lamentou o mergulhador no Facebook. 

Ao problema da gestão das águas residuais e do lixo se soma o comportamento dos turistas, que muitas vezes pisam nos recifes de coral, que também são maltratados pelas âncoras. 

"O turismo tem todo tipo de efeitos negativos para a saúde dos corais", confirmou Eike Schoenig, um biólogo marinho do Centro de Pesquisas Oceânicas da Tailândia. 

Para os países que vivem do turismo de massas, como Tailândia, Indonésia ou Filipinas, a chave está em buscar soluções sem matar a galinha dos ovos de ouro. 

Na Tailândia, em Maya Bay, os barcos poderão se aproximar da baía mas não vão poder atracar e não será permitida a entrada de ninguém. 

Cotas

As autoridades avaliam uma série de opções para a alta temporada, que começa em outubro e termina entre abril e maio, entre elas estabelecer uma cota de turistas na praia. 

A Tailândia está estudando inclusive tomar medidas em outras seis zonas marinhas que busca proteger. 

Na Indonésia, as autoridades identificaram outras 10 áreas, como a ilha de Lombok e o lago Toba, na ilha de Samatra.  

Os especialistas apontam a necessidade de tomar ações mais a longo prazo, além dos anúncios dos fechamentos de alguns meses, em temporada baixa, já que a quantidade de turistas não para de aumentar, assim como na Tailândia. 

A chegada de turistas chineses, que vêm em grandes grupos, coloca um desafio para os governos do sudeste asiático. 

Dos mais de 35 milhões de visitantes que chegaram à Tailândia em 2017, cerca de 10 milhões eram da China. 

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