Os venezuelanos, abalados por uma severa crise econômica, comparecem às urnas neste domingo (20) para uma eleição presidencial na qual Nicolás Maduro busca a reeleição, mas que é boicotada pela oposição e não é reconhecida por grande parte da comunidade internacional.
Depois de votar em uma escola da zona oeste de Caracas, Maduro advertiu que "a vontade do povo venezuelano será respeitada aqui e no mundo". Também pediu o fim da "feroz campanha" dos Estados Unidos e de vários países contra seu governo. "Teu voto decide: votos ou balas", completou Maduro, que deseja derrotar os apelos de abstenção promovidos pela coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).
No meio da manhã, o comparecimento era moderado, pequeno em certos pontos da zona leste de Caracas, reduto da oposição. Quase 20,5 milhões de eleitores estão registrados para votar em uma eleição antecipada e de apenas um turno, que definirá um novo mandato de seis anos a partir de janeiro de 2019.
A MUD se recusou a participar por considerar o processo uma "fraude" para perpetuar Maduro no poder. Mas o ex-chavista Henri Falcón ignorou a determinação e é o principal rival do presidente nas urnas. Com uma oposição dividida e seus principais líderes sem direitos políticos ou presos, além de um vasto poder institucional, com os militares à frente, Maduro tem tudo para conquistar um novo mandato, de acordo com os analistas.
Quase todas as pesquisas apontam empate técnico entre Falcón e Maduro, mas uma elevada taxa de abstenção favoreceria o presidente, já que o chavismo tem o voto fiel de 25% do eleitorado. O terceiro candidato é o pastor evangélico Javier Bertucci. Mas o clima nas ruas é de apatia: o cenário de apagões, falta de comida, remédios, transporte e água, hiperinflação, com um salário mínimo que permite a compra de um quilo de leite em pó, provocou uma emigração em massa nos últimos quatro anos.
A Venezuela viveu no governo de Maduro, ex-motorista de ônibus e sindicalista, de 55 anos e no poder desde 2013, uma das maiores crises da economia mundial em meio século, de acordo com o FMI, que calcula uma queda de 15% do PIB e uma hiperinflação de 13.800% para 2018.
O país e a petroleira PDVSA foram declaradas em default parcial em 2017. A produção de combustível está no pior nível em 30 anos. Maduro, no entanto, promete prosperidade. "A economia que existe hoje não nos serve porque foi infectada de neoliberalismo", disse o governante, que alega não ser um "novato" como em 2013.
Apesar da reprovação de 75% dos venezuelanos a sua gestão, Maduro se beneficia dos eleitores leais ao falecido Hugo Chávez (que foi presidente de 1999 a 2013) e da dependência de setores populares de programas sociais e clientelistas. Falcón, ex-militar da reserva, de 56 anos, promete dolarizar a economia, devolver empresas expropriadas pelo chavismo e permitir a entrada de ajuda humanitária no país.
Em várias cidades ao redor do mundo, venezuelanos convocaram protestos contra as eleições. Muitos culpam o governo socialista pelo colapso, enquanto Maduro atribui a situação a uma "guerra econômica" da oposição de direita aliada a Washington. Neste domingo, o papa Francisco rezou pela Venezuela: "Peço ao Espírito Santo que dê a todo o povo venezuelano, a todos, governantes, povo, a sabedoria para encontrar o caminho da paz e da unidade".
Em apoio à MUD, Estados Unidos, Canadá, União Europeia (UE) e vários países latino-americanos afirmam que a eleição não é justa nem transparente e acusam Maduro de sufocar a democracia. "Têm que nos reconhecer", afirmou neste domingo Maduro, antes de reiterar sua "irritação" por países como Estados Unidos e França o chamarem de "ditador".
Quase todas as pessoas do círculo presidencial são objetos de sanções da UE e de Washington, que incluiu na sexta-feira em sua lista o temido dirigente Diosdado Cabello, número dois do chavismo. Quase 70 autoridades venezuelanas - incluindo Maduro - são objetos de sanções, com bloquei o de bens e proibição de vistos.
Estados Unidos, país para o qual a Venezuela vende um terço de sua produção de petróleo, proibiu que seus cidadãos negociem dívida venezuelana e ameaça adotar um embargo petroleiro. Mas Maduro confia na ajuda de seus aliados China e Rússia, assim como no apoio, até agora incondicional, da cúpula militar. "A crise é tão severa que pode provocar uma fricção dentro da aliança cívico-militar governante ou uma ruptura social de maior escala", advertiu o Crisis Group. Mais de 300.000 soldados foram mobilizados para garantir a segurança da votação.