O presidente americano, Donald Trump, se mostrou nesta sexta-feira (25) otimista sobre a realização da cúpula com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, menos de 24 horas depois de ter cancelado o encontro de 12 de junho em Singapura.
"Inclusive poderia ser dia 12. Estamos falando com eles agora", disse Trump a jornalistas na Casa Branca. "Eles realmente querem fazê-la. Nós queremos fazê-la".
"Veremos o que vai acontecer", acrescentou, repetindo uma frase que usa constantemente.
A Coreia do Norte manifestou mais cedo sua disposição de falar com os Estados Unidos "a qualquer momento", uma declaração que Trump celebrou como "amigável e produtiva".
"É uma ótima notícia (...) Logo veremos para onde vamos, esperamos que haja uma longa e duradoura prosperidade e paz. Somente o tempo (e o talento) dirão!", tuitou mais cedo.
O secretário americano de Defesa, James Mattis, reforçou a ilusão de um encontro de última hora. "Os diplomatas continuam trabalhando sobre a possibilidade dessa cúpula", assinalou.
A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, se limitou a comentar que "se a reunião acontecer em 12 de junho estaremos prontos".
O secretário americano de Estado, Mike Pompeo, manteve contato por telefone com o chanceler sul-coreano, Kang Kuyng-wha, e os dois acertaram manter a coordenação nos esforços para se criar um diálogo com a Coreia do Norte.
Em uma carta a Kim, Trump havia anunciado na quinta-feira que cancelava a cúpula devido à "hostilidade aberta" de Pyongyang, e advertiu a Coreia do Norte de não cometer nenhum "ato bobo ou imprudente". Entretanto, não descartou futuras conversas.
Pyongyang reagiu de forma comedida ao cancelamento, tornado público no mesmo dia em que a Coreia do Norte declarou ter desmantelado "completamente" seu único local conhecido de testes nucleares.
A cúpula de Singapura teria sido a primeira entre um presidente americano e um dirigente máximo da Coreia do Norte, coroando um inédito período de aproximação entre dois emblemáticos inimigos da Guerra Fria. Mas se anunciava um pouco complicada.
Washington exige uma "desnuclearização completa, verificável e irreversível" da Coreia do Norte. Mas Pyongyang declarou que jamais renunciaria ao seu arsenal nuclear enquanto não se sentir segura ante o que considera uma agressão americana.
O cancelamento americano foi uma decepção para a Coreia do Sul, que negociou uma notável distensão entre Washington e Pyongyang. O presidente Moon Jae-in descreveu a virada dos acontecimentos como "profundamente lamentável".
Inclusive, o ministro sul-coreano de Unificação, Cho Myung-gyon, assinalou que "a impressão é que (a Coreia do Norte) continua sendo sincera sobre a ideia de um acordo e em seus esforços de desnuclearização".
O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, disse, entretanto, que respeita e apoia a decisão de Trump.
A China, único grande aliado de Pyongyang, pediu a ambas as partes que "mostrem boa vontade", enquanto o secretário-geral da ONU, António Guterres, solicitou aos dois países que continuem conversando, assim como o anfitrião Singapura.
O presidente russo, Vladimir Putin, expressou sua esperança de que as conversas finalmente sejam realizadas.
O anúncio de Trump é feito um dia depois de Pyongyang endurecer a sua retórica e chamar de "estúpidas" e "ignorantes" as declarações do vice-presidente americano, Mike Pence, sobre a desnuclearização do país asiático.
Trump investiu muito capital político no encontro com Kim, mas à medida que a data se aproximava, a brecha entre as duas partes era cada vez mais evidente.
Um funcionário americano de alto escalão disse que Pyongyang havia demonstrado uma "profunda falta de boa fé" e lamentou que os norte-coreanos não tivessem ido, na semana passada, a uma reunião em Singapura para preparar a cúpula.
A Casa Branca viu as objeções da Coreia do Norte ao último exercício militar conjunto entre Estados Unidos e Coreia do Sul, e seu recente cancelamento de uma reunião com os sul-coreanos, como uma violação de seus compromissos anteriores à cúpula.
Washington também não estava satisfeito com o fato de o Norte não ter permitido que observadores internacionais verificassem o desmantelamento de Punggye-ri, campo de testes dos seis ensaios realizados, em uma montanha perto da fronteira com a China.
Mas a vice-chanceler norte-coreana, Choe Son Hui, afirmou que as furiosas declarações de Pyongyang foram "apenas uma reação em resposta às duras palavras do lado americano, que esteve pressionando por uma desnuclearização unilateral".
Tanto Pence como o conselheiro de Segurança Nacional de Trump, John Bolton, mencionaram o "modelo líbio" para a Coreia do Norte. Na Líbia, o líder Muammar Kadhafi foi executado anos depois de um levante popular apoiado por bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Os especialistas advertiram que cancelar a reunião poderia ter efeitos colaterais, especialmente entre os aliados que já estão sacudidos pela imprevisibilidade de Trump.
"No concurso para determinar quem é o líder más errático, Trump claramente ganha de Kim Jong Un", comentou Joe Wit, fundador do site dedicado à Coreia do Norte "38 North". "Sua instabilidade afunda todos na perplexidade, incluindo nossos aliados sul-coreanos", acrescentou.
Outros consideram que a decisão de Trump pode provocar novas concessões de Pyongyang. "A Coreia do Norte terá que apresentar projetos mais precisos para a desnuclearização se quiser conversar no futuro", disse à AFP Go Myong-hyun, analista do Instituto Asan de Estudos Políticos.