Mohamad mantém imóvel uma gata grávida para que possa ser examinada. Apaixonado por felinos, o sírio de 34 anos criou numa zona rebelde deste país em guerra uma clínica improvisada para atender a estes animais.
Desde 2017, o abrigo para gatos e sua pequena clínica, em Kafr Naha, na província de Aleppo, abrigou centenas de gatos, além de outros animais.
"Se quiser mostrar compaixão pelas pessoas, comece a ter compaixão por outros seres vivos", declara Mohamad Alaa Jalil, que batizou seu centro de "Ernesto", nome de seu gato favorito.
Jalil, que cresceu em Aleppo, a segunda maior cidade do país, era eletricista antes da guerra, em 2011. Ele explica que naquela época ia aos açougues para recuperar os restos de carne e distribuí-los entre os gatos abandonados do bairro.
Quando a guerra começou, virou motorista de ambulância, uma atividade que não o impediu de continuar alimentando os gatos.
A medida que o conflito avançava, com a cidade dividida entre a zona rebelde e a zona do governo, muitos habitantes fugiram e abandonaram seus animais de estimação.
Apelidado rapidamente "de o homem dos gatos de Aleppo", acabou recolhendo 170 gatos.
Entre doações de amigos e de amantes dos animais, especialmente estrangeiros, criou sua primeira clínica para gatos.
Mas, no final de 2016, o regime intensificou os bombardeios contra os bairros rebeldes e acabou assumindo o controle de toda a cidade.
"Nós fugimos de um bairro para outro e depois deixamos a cidade", lembra Mohamad.
Determinado a não deixar para trás todos esses animais, ele conseguiu, com a ajuda de amigos, levar 22 gatos para fora da cidade.
Entre eles, Sukhoi, apelidado com o nome dos aviões de combate da Rússia, aliada do regime de Bashar Al Asad.
"Como um Sukhoi, ele deslizava entre os outros gatos e conseguia roubar a comida", explica ele à AFP.
Mohamad estabeleceu-se no início de 2017 em Kafr Naha, onde criou um novo centro que acolhe, no momento, 18 gatos. Além de duas copiosas refeições por dia, esses felinos recebem os cuidados do veterinário da clínica.
E a acolhida não se limita aos gatos. "Tratamos todos os tipos de animais gratuitamente: cavalos, vacas e até galinhas", explica.
A clínica, que recebe financiamento por meio de campanhas participativas, já realizou 7.000 atos médicos gratuitos em menos de um ano.
Os clientes se surpreendem com a qualidade do tratamento. Um deles, Mohamad Watar, foi ao centro com seu gato, sofrendo uma intoxicação alimentar.
"Fiquei muito surpreso em ver um projeto como esse num contexto de guerra", diz. "Eu os vi cuidar de vários tipos de animais, é realmente extraordinário".
A guerra, contundo, continua próxima: no edifício principal do centro veterinário há marcas dos tiros trocados entre rebeldes e as forças pró-regime.
Além disso, no mês passado, uma criança ficou ferida ao ser atingida por tiros perto da clínica, segundo a página no Facebook em inglês do centro.
A guerra na Síria já causou mais de 350.000 mortos e milhões de deslocados.