Um grupo de investigadores da ONU pediu em um relatório ao governo de Mianmar que afaste o exército da política do país por seu envolvimento no "genocídio" dos muçulmanos rohingyas.
O governo birmanês "tem que seguir o processo para retirar os militares da vida política", com uma reforma da Constituição neste sentido, indica o relatório.
Apesar da chegada ao governo em 2016 da vencedora do Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, os militares mantêm um papel chave no sistema político de Mianmar e controlam três ministérios (Defesa, Interior e Fronteiras).
Além disso, supervisionam a atribuição de 25% das cadeiras no Parlamento, o que permite bloquear qualquer emenda constitucional que limite seus poderes.
Os investigadores da ONU também pedem a destituição dos comandantes militares. Pedem que o chefe das Forças Armadas, Min Aung Hlaing, e outros cinco oficiais de alta patente sejam processados por "genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra".
A missão da ONU, que não foi autorizada a entrar em Mianmar, entrevistou mais de 850 vítimas e testemunhas e utilizou imagens de satélite.
O relatório cita uma longa de lista de crimes cometidos contra os rohingyas e cita "assassinatos, desaparecimentos, tortura, violências sexuais, trabalho forçado", que constituem "os crimes mais graves de acordo com o direito internacional".
Também pede o fim de "todas as operações militares (...) ilegais, inúteis ou desproporcionais, em particular quando apontam contra civis" e pede às autoridades birmanesas "que não obstruam o retorno seguro e duradouro" da minoria rohingya.
Mais de 700 mil membros desta minoria fugiram em 2017 de Mianmar e encontraram refúgio em Bangladesh.
A ONU também pede às autoridades birmanesas, em coordenação com a Cruz Vermelha e Bangladesh, que identifiquem as pessoas mortas ou desaparecidas.
As informações compiladas por investigadores afirmam que a estimativa de 10 mil mortos, antecipada pela ONG Médicos Sem Fronteiras, é "prudente".