Donald Trump fez um apelo para isolar Teerã e Hassan Rohani acusou Washington de tentar derrubar seu regime: os presidentes de Estados Unidos e Irã partiram para o confronto nesta terça-feira (25), na Assembleia Geral das Nações Unidas.
Os dois líderes, que rejeitaram a possibilidade de se reunir em Nova York, utilizaram seus discursos na Assembleia Geral para apoiar suas posições.
Trump, que no discurso do ano passado havia ameaçado "destruir totalmente" a Coreia do Norte, este ano destacou o sucesso de sua "audaz" estratégia com Pyongyang.
O presidente americano chegou a elogiar a "valentia" do líder norte-coreano, Kim Jong Un, que há um ano chamou de "homem foguete".
Este ano foi o Irã, que qualificou de "ditadura corrupta", o alvo da metralhadora giratória de Trump.
"Não podemos deixar que o maior patrocinador mundial do terrorismo possua as armas mais perigosas do planeta", declarou em referência ao apoio de Teerã a movimentos islâmicos como Hamas e Hezbollah.
Trump acusou o regime de Teerã de semear "o caos, a morte e a destruição", e defendeu a saída dos Estados Unidos - em maio - do acordo nuclear iraniano de 2015, decisão que irritou seus aliados europeus.
Da mesma tribuna, o presidente iraniano, Hassan Rohani, acusou Trump de buscar a queda do regime em Teerã, afastando a ideia de retomar as conversações com Washington.
Rohani denunciou a posição "absurda" de Trump. A segurança internacional não pode ser "um brinquedo da política doméstica americana".
"É irônico que o governo americano nem sequer tente esconder seu plano para derrubar o mesmo governo que convida para dialogar", denunciou Rohani.
O líder iraniano acrescentou que "para que o diálogo ocorra, não é preciso posar para a foto", e que as duas partes poderiam se escutar nesta Assembleia.
De outra perspectiva, Rohani celebrou o fato de a comunidade internacional não ter acompanhado os Estados Unidos em sua "saída unilateral ilegal do Plano de Ação Conjunto e Completo", o acordo sobre o programa nuclear do Irã.
"As sanções ilegais unilaterais em si constituem uma forma de terrorismo econômico", disse Rohani.
No mesmo contexto, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, criticou duramente o uso das sanções econômicas "como armas", em uma crítica implícita aos Estados Unidos.
"Nenhum de nós pode ficar em silêncio diante do cancelamento arbitrário de acordos comerciais, do prevalecimento do protecionismo e do uso de sanções econômicas como armas", assinalou Erdogan na assembleia.
O presidente turco não acusou diretamente os Estados Unidos, mas assinalou os "países que de maneira persistente estão tentando criar caos".
Mais cedo, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu na mesma assembleia que resolvam a crise do Irã por meio do "diálogo e do multilateralismo".
"O que é que realmente resolverá a situação no Irã e já começou a permitir a sua estabilização?", perguntou Macron. "A lei do mais forte? A pressão de um só? Não!", enfatizou.
Em seu discurso, Trump atacou fortemente a visão "globalizante" do planeta, compartilhada por muitos países que defendem o multilateralismo na ONU e pela esquerda nos Estados Unidos, e prometeu: "Os Estados Unidos nunca pedirão perdão por proteger seus cidadãos".
Assegurou que o Tribunal Penal Internacional, apoiado pela ONU, "não tem nenhuma jurisdição, nem legitimidade, nem autoridade".
"Nunca entregaremos a soberania dos Estados Unidos para uma burocracia mundial que não foi eleita e nem presta contas. Os Estados Unidos são governado pelos Estados Unidos", afirmou.
Trump provocou risos na habitualmente solene assembleia ao se vangloriar de que seu governo é o melhor da história dos Estados Unidos.
O secretário americano de Estado, Mike Pompeo, denunciou o plano da União Europeia para criar um mecanismo que preserve seus negócios com o Irã.
As cinco partes restantes do acordo de 2015 - França, Grã-Bretanha, Alemanha, China e Rússia - acertaram durante uma reunião em Nova York, na noite de segunda-feira, estabelecer um sistema de pagamento para preservar os negócios com o Irã, apesar das sanções dos EUA.
Pompeo se disse "profundamente decepcionado" com este mecanismo.
"É uma das medidas mais contraproducentes que se possa imaginar para a paz e a segurança regionais", disse Pompeo, acusando o bloco europeu de "solidificar a posição do Irã como o patrocinador número um do terrorismo".
"Imagino que os aiatolás corruptos e os Guardiões da Revolução Islâmica estarão rindo amanhã", disse Pompeo durante reunião de um grupo que pressão para evitar que o Irã adquira capacidades nucleares.