Um confronto com armas de fogo e granadas matou, na última sexta-feira (24), 29 detentos na cadeia de uma delegacia da cidade venezuelana de Acarigua, no estado de Portuguesa, confirmaram as autoridades.
A intervenção das Forças de Ações Especiais da Polícia Nacional (FAES) para controlar uma "tentativa de fuga em massa" terminou "com 29 pessoas falecidas dentro da população penal", disse o secretário de Segurança Cidadã de Portuguesa, Oscar Valero.
Segundo informações, os detentos receberam os agentes com "uma chuva de balas" e detonaram três granadas, que feriram 19 funcionários policiais.
Carlos Nieto, diretor da ONG Uma Janela para a Liberdade, revelou que os confrontos ocorreram quando um comando das FAES entrou para resgatar visitantes que tinham sido feitos reféns na quinta-feira pelo líder do presídio.
"Esta manhã enviaram o FAES e houve um enfrentamento. Os detentos tinham armas, atiraram nos policiais. Aparentemente, (os presos) também explodiram duas granadas", destacou o ativista.
Na quinta-feira (23) circulou um vídeo nas redes sociais no qual um detento com uma pistola ameaçava duas mulheres: "é a nossa vida e a das visitas que estão aqui; estamos com os visitantes".
"Não tentem entrar porque estou disposto a morrer. Aqui queremos a paz", advertiu o homem, que parecia segurar também duas granadas. Nieto revelou que os detentos exigiam "comida e transferência para outras prisões", além de denunciarem "abusos" dos policiais.
O Ministério de Assuntos Penais não costuma informar sobre estes incidentes, afirmando que centros de detenção preventiva como este não estão sob seus cuidados. A violência é comum nestes estabelecimentos onde, segundo Uma Janela para a Liberdade, os acusados não deveriam passar mais de 48 horas.
Os centros de detenção provisória "não são espaços aptos para se ter reclusos por mais de 48 horas, isto é função do Ministerio, que não assume suas responsabilidades", disse Nieto.
Os cerca de 500 centros de detenção existentes na Venezuela abrigam 55 mil detentos, quando sua capacidade é para apenas 8.000, de acordo com a ONG. Na delegacia de Acarigua, com capacidade para 60 detidos, havia cerca de 500 reclusos, segundo funcionários locais.
A situação é "caótica" em todo o sistema penitenciário, o que propicia que quadrilhas assumam o controle de algumas prisões.
"Até quando vão seguir morrendo os presos que estão sob a responsabilidade do Estado na Venezuela?" - questionou Humberto Prado, diretor do Observatório Venezuelano de Prisões ao denunciar o "massacre".
As FAES - corpo de elite da polícia - são acusadas pelas ONGs de múltiplas violações dos direitos humanos em seu combate à criminalidade, incluindo supostas execuções.
Os presídios venezuelanos são os mais violentos da região. Em 28 de março de 2018, um total de 68 detentos morreram em um incêndio em celas policiais da cidade de Valencia (norte).
Enquanto isso, em agosto de 2017, um motim deixou 37 reclusos mortos em um centro de detenção provisório no estado do Amazonas (sul).
Em 28 de março do ano passado, 68 detentos morreram em um incêndio na carceragem do comando da polícia de Carabobo (norte), em uma das piores tragédias carcerárias dos últimos anos no país, atribuída pela Janela para a Liberdade a uma revolta após tentativa de fuga.
Em agosto de 2017, uma revista de funcionários do ministério do Interior provocou um confronto que deixou 37 presos mortos e 17 funcionários feridos no Centro de Detenção Judicial de Amazonas (sul).
Em janeiro de 2013, uma rebelião em uma prisão de Uribama deixou 60 detentos mortos e 150 feridos.
Em 2012, no mês de julho, 28 detentos morreram e 17 ficaram feridos no Centro Penitenciário da Região Andina, no estado de Mérida (oeste), e em agosto 20 presos foram mortos em confrontos entre facções na Penitenciária de Yare I, na região de Caracas.
Um ano antes, em junho, 30 detentos e três militares morreram durante uma revolta na prisão de El Rodeo, subúrbio de Caracas.