Parlamento do Iraque aceita demissão do governo

O chefe do Parlamento indica que vai pedir ao presidente iraquiano que aponte o novo primeiro-ministro
Agência AFP
Publicado em 01/12/2019 às 13:13
O chefe do Parlamento indica que vai pedir ao presidente iraquiano que aponte o novo primeiro-ministro Foto: Haidar Hamdani / AFP


O Parlamento aceitou, neste domingo, a demissão do governo de Adel Abdel Mahdi no Iraque, que vive o luto pelos mortos em manifestações, inclusive nas regiões sunitas que ficaram à margem dos protestos. O chefe do Parlamento indicou que pedirá ao presidente iraquiano que aponte o novo primeiro-ministro.

A votação aconteceu dois dias depois de Mahdi anunciar sua intenção de entregar o cargo. O anúncio veio logo depois de o aiatolá Ali Sistani, maior autoridade xiita do país, exigir a sua substituição, após dois meses de manifestações. Os protestos prosseguiam neste domingo, e já deixaram mais de 420 mortos.

Fora da capital iraquiana, as manifestações de hoje se transformaram em velórios, inclusive em Mossul, grande cidade sunita do norte. As províncias sunitas, reconquistadas dos jihadistas do Estado Islâmico (EI) há dois anos, mantiveram-se, até agora, à margem do movimento de protesto. Embora seus habitantes se queixem dos mesmos males que os do sul, eles temem ser classificados de nostálgicos do poder de Sadam Hussein ou do Estado Islâmico. Acusações deste tipo foram feitas no Iraque contra os manifestantes por seus detratores.

'Todo o Iraque' 
 

Zara Ahmed, estudante de odontologia em Mossul, marchou neste domingo vestida de preto. "É o mínimo que podemos fazer em Mossul pelos mártires de Nassiriya e Najaf", cidades xiitas do sul onde 70 manifestantes morreram nos últimos três dias.

"Estamos presentes, todo o Iraque está presente, agora o governo tem que atender às reivindicações", insistiu o estudante Husein Khidhir. Oito províncias do sul xiita também estavam de luto hoje, e manifestantes ocupavam a maioria dessas praças.

Paralelamente à demissão do governo de Mahdi, os manifestantes também querem o fim do sistema político concebido pelos Estados Unidos desde a guerra e invasão de 2003 e a derrubada de Saddam Hussein, e se opõem à influência crescente do Irã. Também pedem uma nova Constituição e, principalmente, a renovação total da classe política, considerada incompetente e que permitiu que, em 16 anos, evaporasse-se o equivalente a duas vezes o PIB anual do país, segundo maior produtor mundial de petróleo.

Primeira condenação da polícia 
 

Na cidade sagrada xiita de Najaf, onde um incêndio no consulado iraniano na última quarta-feira abriu caminho para uma nova onda de repressão e violência, o descrédito nos partidos políticos é total.

Em Nassiriya, cidade de origem do premier demissionário e onde cerca de 40 manifestantes morreram entre sexta-feira e ontem, os mobilizados não abandonaram hoje seus acampamentos.

Pela primeira vez desde o começo das manifestações, um tribunal iraquiano condenou à morte, hoje, um policial acusado de ter matado manifestantes. O tribunal penal de Kut ordenou que um comandante da polícia fosse enforcado, enquanto um tenente foi condenado a sete anos de prisão. Ambos foram julgados depois que as famílias de dois dos sete manifestantes mortos em Kut em 2 de novembro apresentaram uma queixa.

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