A principal coalizão de oposição síria é esperada neste sábado (29) em Genebra para participar das discussões organizadas pela ONU, na esperança de pôr fim a cinco anos de guerra no país, onde a situação humanitária é catastrófica.
"Nós vamos chegar hoje à noite em Genebra", disse por telefone à AFP o porta-voz do Alto Comitê de Negociações (ACN), o principal grupo de oposição, Monzer Majus.
Depois de quatro dias de incerteza, o ACN decidiu na sexta-feira se juntar às negociações abertas pelo enviado da ONU, que já realizou uma reunião com uma delegação do regime de Damasco.
A delegação de negociadores da oposição é composta por quinze pessoas, mas haverá mais vinte representantes do ACN em Genebra.
O coordenador do ACN, Riad Hijab, irá juntar-se à delegação mais tarde e as reuniões com o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, começarão "talvez amanhã", no domingo, ressaltou.
Criado em dezembro, em Riad, o ACN, que reúne grupos de opositores políticos e representantes de grupos armados, se recusava até então a participar dessas negociações indiretas devido à situação humanitária catastrófica na Síria, mas mudou de ideia depois de receber garantias da ONU sobre alguns aspectos.
Sobre as negociações, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, e o secretário de Estado americano, Jonh Kerry, concordaram em "avaliar os progressos" em 11 de fevereiro, segundo o ministério das Relações Exteriores da Rússia.
Por sua vez, o líder do principal partido curdo sírio PYD, Saleh Muslim, e outras autoridades curdas que estavam em Genebra à espera de serem convidados a participar nas negociações deixaram a Suíça.
"Vamos embora de Genebra porque não recebemos convite. Não nos sentiremos comprometidos com nenhuma decisão tomada em Genebra, incluindo um cessar-fogo", indicou uma fonte da delegação que não quis se identificar.
"Sem nós o processo (de Genebra) sofrerá o mesmo destino que as negociações precedentes", acrescentou a fonte, em referência ao fracasso das discussões em 2014.
Esperanças escassas
No terreno, a situação está piorando a cada dia, principalmente em Madaya, cidade perto de Damasco sitiada pelas forças do regime, onde 16 pessoas morreram de fome desde meados de janeiro, de acordo com a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).
E os compromissos adotados para convencer o ACN a participar das discussões estão justamente relacionadas com a implementação das medidas humanitárias previstas na resolução 2254 do Conselho de Segurança da ONU para a suspensão dos bombardeios em áreas civis e um acesso humanitário às localidades sitiadas.
Os Estados Unidos, a Arábia Saudita e a França saudaram a decisão do ACN de participar das discussões, fazendo referência a esta resolução.
As negociações devem "alcançar uma transição política sem Assad e acabar com o sofrimento dos sírios", insistiu em um comunicado o chefe da diplomacia britânica, Philip Hammond.
A questão do destino do presidente Bashar al-Assad, visto pelo Ocidente como o carrasco de seu próprio povo, é uma das mais difíceis, uma vez que os russos e iranianos rejeitam a sua exclusão.
"Nenhum aspecto deve ser deixado de fora", ressaltou neste sábado seu colega francês, Laurent Fabius, para quem as discussões devem se concentrar no "direito humanitário" e na "transição política".
A ONU decidiu manter a abertura das discussões na sexta-feira, apesar da ausência do ACN e de Mistura se reuniu com a delegação de Damasco liderada pelo embaixador sírio na ONU, Bashar Jaafari, e que conta com cerca de quinze pessoas.
O encontro, descrito pelo enviado da ONU como uma "reunião preparatória", marcou o pontapé inicial de um diálogo inter-sírio simbólico, organizado após uma grande pressão internacional e que deve durar seis meses.
As grandes potências esperam que os sírios consigam pôr fim a uma guerra que deixou mais de 260.000 mortos e milhões de refugiados e deslocados desde março de 2011.
De acordo com o roteiro, fixado em uma resolução da ONU em dezembro, os sírios precisam concordar sobre um corpo transitório para organizar eleições em meados de 2017.
As esperanças de sucesso são escassas, dada a extrema complexidade da questão e a participação direta ou indireta de uma dúzia de países no conflito.
As discussões adiante, apesar da emergência humanitária, serão difíceis.