Uma nuvem de suspeitas sobre os vínculos com Moscou paira sobre o presidente Donald Trump desde que os Serviços de Inteligência americanos asseguraram que o governo russo interferiu na eleição presidencial de 2016 contra sua rival Hillary Clinton.
O assessor de Segurança Nacional de Trump foi obrigado a renunciar na segunda-feira por suas conversas particulares com o embaixador russo em Washington, e nesta quarta-feira o The New York Times noticiou que assessores de Trump e pessoas de seu entorno também ligaram para funcionários do alto escalão da Inteligência russa durante a campanha eleitoral.
Muitas perguntas sobre estes episódios continuam sem resposta. A seguir o que se sabe sobre o assunto:
Em sua condição de empresário imobiliário, Trump sempre se propôs a investir na Rússia, inicialmente analisando a possibilidade de construir um edifício de luxo próximo ao Kremlin em 1996. Visitas posteriores não fizeram o projeto seguir adiante, mas nos anos 1990 Trump elogiou os homens fortes deste país, incluindo o presidente Vladimir Putin.
Simultaneamente, vários russos, alguns relacionados a Putin, investiram em propriedades nos Estados Unidos sob a franquia Trump. Em 2013, Trump levou seu concurso Miss Universo a Moscou e trabalhou com outros empresários próximos ao presidente russo.
Durante a campanha presidencial, Donald Trump desmentiu os relatórios de que Moscou estaria por trás do ciberataque aos e-mails da equipe de Hillary. Ao contrário, elogiou Putin e prometeu melhores relações com ele.
Órgãos de Inteligência americanos denunciaram no início de julho de 2016 que o governo russo estava envolvido no ciberataque dos e-mails internos do Partido Democrata que acabaram sendo comprometedores para a candidata Hillary Clinton.
Em outubro, essas mesmas agências acusaram Putin de comandar essas operações, e em 29 de dezembro, o presidente Barack Obama anunciou medidas em represália, incluindo novas sanções e a expulsão de 35 supostos espiões russos que faziam parte da equipe diplomática em Washington.
Também foi divulgado um processo sobre as relações entre a equipe de campanha de Trump e a Rússia elaborado por um ex-agente britânico, que cita fontes russas que sustentam que o ataque tinha a intenção de ajudar Trump a ganhar as eleições. Os Serviços de Inteligência apenas confirmaram recentemente alguns detalhes do processo.
O The New York Times reportou nesta quarta-feira que órgãos de Segurança americanos interceptaram inúmeras ligações entre assessores de Trump e funcionários da Inteligência russa durante a campanha. O NYT identificou um desses assessores como Paul Manafort.
Manafort, diretor de campanha de Trump, foi um lobista e empresário que trabalhou durante anos como assessor do líder ucraniano pró-Rússia Viktor Ianukovich e para a atual posição pró-Rússia na Ucrânia. Manafort renunciou como diretor de campanha antes da eleição de 8 de novembro depois que as autoridades ucranianas disseram que os arquivos mostravam que o partido das autoridades anteriores pró-Rússia de Kiev haviam pago a ele 12,7 milhões de dólares, o que Manafort nega.
O relatório Trump-Rússia denuncia que Manafort manteve uma "cooperação" com dirigentes russos durante a campanha através de Carter Page, um consultor externo na equipe de Trump. Page, que havia sido um banqueiro de investimentos com sede em Moscou, visitou a capital russa em julho e dezembro para assuntos particulares, segundo contou. O processo alega, entretanto, que se reuniu com funcionários de alto escalão e pessoas próximas a Putin para discutir as sanções e questões energéticas.
O ex-chefe de Inteligência militar foi um assessor de Trump em assuntos de Segurança. Após deixar o âmbito militar, Flynn apareceu na emissora Russia Today em dezembro de 2015 e foi pago para falar em uma cerimônia em Moscou, na qual sentou ao lado de Putin. A RT é vista pelos Serviços de Inteligência americanos como uma emissora que faz propaganda a favor do Kremlin.
Durante a campanha das presidenciais, Flynn pediu melhores relações com a Rússia e depois da vitória de Trump manteve conversas por telefone com o embaixador russo nos Estados Unidos, Serguei Kislyak.
Flynn negou inicialmente ter falado sobre as sanções e sobre Trump ter uma atitude mais amistosa com Moscou. Depois de receber garantias de Flynn, o vice-presidente eleito, Mike Pence, apareceu na televisão para defendê-lo, insistindo que não havia falado sobre as sanções com Kislyak.
Mas os organismos de Segurança americanos registraram as ligações e concluíram que as sanções haviam sido objeto de diálogo entre Flynn e o diplomata russo. Em 26 de janeiro, a procuradora-geral Sally Yates advertiu o máximo assessor legal de Trump sobre as inconsistências de Flynn e que as mesmas poderiam fazê-lo vulnerável a chantagens.
Trump não tomou nenhuma medida imediata, mas quando o The Washington Post e o NYT escreveram, na semana passada, que alguns trechos da conversa mostravam que haviam falado sobre as sanções e que havia mentido para Pence, o apoio a Flynn na Casa Branca acabou. Na segunda-feira, renunciou a seu cargo.