A constatação de que o transporte público por ônibus no Brasil perdeu 12 milhões e meio de passageiros entre abril de 2018 e abril de 2019 dá a sensação de termos entrado em um engarrafamento, sem saída e com uma desorientação adicional: para onde e como se movimentou tanta gente? Em seminário que acaba de ser promovido em Brasília, a Associação das Empresas de Transportes Urbanos expôs uma síntese que dá uma ideia ampla do que isso significa: "Embora seja um direito de toda a sociedade e um serviço essencial para a mobilidade, a economia e a sustentabilidade das cidades, o transporte público não tem conseguido desempenhar plenamente seu papel, operando com infraestrutura inadequada, de forma deficitária e sendo historicamente mal avaliado pelo público, em boa parte devido às amarras impostas à sua natureza de serviço público altamente regulado".
A questão é como encontrar saídas. O seminário em Brasília procurou respostas para um problema que não é novo mas permite que se vislumbre luzes no fim do túnel, a partir mesmo do tema discutido: Os caminhos para a inovação e o futuro do transporte público, com o debate de propostas para a superação dos desafios estruturais que impedem a oferta de serviços de qualidade, com transparência e preços acessíveis. Destaque para a adoção de soluções inovadoras, de base tecnológica ou não, voltadas para elevar a operação das redes de transporte a um novo patamar de excelência e eficiência.
Podemos dizer que, assim como São Paulo, o Grande Recife tem como discutir essa questão a partir das expectativas de inovação. Em São Paulo há estudos mostrando que o transporte de cargas por embarcações nos rios Tietê e Pinheiros pode reduzir congestionamentos, poluição e acidentes, com uma projeção ainda mais otimista de no futuro se desenvolver, também, o transporte de passageiros. O mesmo podemos dizer em relação à nossa capital e boa parte da região metropolitana quando se pensa em transporte aquaviário, assim como já se tem projetado para outras cidades costeiras.
Mas não é só. Para o presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, Otávio Vieira da Cunha, é preciso correr contra o tempo: "No mundo todo as pessoas pagam pelo transporte público coletivo e só no Brasil isso não acontece. Todo o transporte é financiado pela tarifa, inclusive as gratuidades, como o estudante e o idoso.
Financiamento
O Brasil faz cortesia e é a pessoa mais pobre, que ganha menos e paga a passagem inteira, quem banca. Precisamos avançar nas discussões de taxar o transporte individual, aí incluídos também os aplicativos, para que ele financie o transporte urbano coletivo". Certamente uma abordagem que deverá permanecer na pauta de debate da mobilidade, cuja solução tem a ver com a viabilidade ou colapso dos grandes centros urbanos.