Médicos pernambucanos realizam ações na última semana da campanha presidencial

Maioria dos profissionais se destaca pela mobilização anti-PT
Mariana Mesquita
Publicado em 18/10/2014 às 0:18
Foto: Foto: Diego Nigro/JC Imagem



Em Pernambuco, segundo o vice-presidente do Sindicato dos Médicos (Simepe), Tadeu Calheiros, o processo tem obedecido tanto a iniciativas individuais como a ações coletivas, deliberadas em assembleia. A maioria dos médicos pernambucanos aderiu à campanha “Fora Dilma”, e adesivos e outros materiais foram impressos, dentro do período permitido pela lei eleitoral. 

As decisões do Simepe levaram alguns de seus membros a se desfiliarem. Este foi o caso da médica de família e professora universitária Rafaela Alves, que deixou seu cargo de diretora de relações institucionais e escreveu uma carta-manifesto, em setembro de 2013, com grande repercussão nas redes sociais. “Na hora em que surge o mais impactante programa de construção de acesso médico às pessoas que mais precisam, os médicos se colocam contra de uma forma equivocada, em nome de um ódio classista, num total equívoco político”, afirma Rafaela, que colabora com o blog Médicos com Dilma. “Queremos quebrar essa ‘sensação social’ de que todo médico vota em Aécio. Isso não é verdade”, destaca. 

DESCONTENTAMENTO DE CLASSE

Embora o Mais Médicos tenha sido o estopim da movimentação, Tadeu Calheiros diz que a insatisfação dos médicos se deve a motivos que vão além do programa, segundo ele criado de forma “irregular”, “oportunista” e “eleitoreira”. “O requinte pior foi a inversão da responsabilidade por escolhas erradas do governo federal, tentando responsabilizar o médicos pela situação da saúde. Quando Dilma fala que o maior legado que os estrangeiros vão deixar é a humanização, é no mínimo um desrespeito a milhares de profissionais brasileiros”, acusa.

“Essas medidas integram um contínuo de ações de Estado em que vários setores foram envolvidos desde a criação do SUS, em 1988”, rebate o coordenador do curso de medicina da UFPE em Caruaru, Rodrigo Cariri. Tutor do Mais Médicos, ele orienta 290 profissionais que atendem a cerca de 1,2 milhão de pernambucanos, e foi denunciado pelo Simepe e pelo Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe)por “ensinar medicina para não-médicos e contrariar os interesses da categoria em proveito pessoal e político”. A ação foi julgada improcedente pela Justiça.

As repercussões desse movimento se espalharam presencialmente e por meio das redes sociais, ao longo dos últimos meses. “Hoje, na sociedade brasileira, a política é o assunto mais discutido onde quer que seja, e isso é legítimo. Agora, é preciso tomar cuidado para que isso não extrapole os limites éticos. Nós condenamos essa prática e o Conselho julgará aquilo que for denunciado, com o rigor necessário”, destaca Tadeu Calheiros.

Até o momento, em Pernambuco, nenhuma denúncia do gênero chegou até as entidades classistas. Já em outros Estados houve excessos, como em Goiás, onde no início de agosto o próprio Conselho Regional de Medicina (Cremego) realizou o envio oficial de cartas para os profissionais locais, declarando “guerra” a Dilma e criticando a “autorização indiscriminada” de abertura de novos cursos e aumentos de vagas nas atuais faculdades de medicina e à implementação do Mais Médicos.

Em setembro, o Tribunal Superior Eleitoral multou o Cremego em R$ 30 mil, pois os conselhos de classe são autarquias federais e, por isso, estão proibidos de utilizar seus cadastros em favor de candidatos, partidos ou coligações. Por isso, diante do precedente, o Cremepe declarou que não poderia se pronunciar à reportagem do JC sobre nenhum assunto ligado ao processo eleitoral.

“As pessoas têm o direito de se pronunciar sobre o que querem para o País”, defende Mozart Sales, um dos criadores do programa Mais Médicos. Candidato não-eleito ao Congresso Federal, Mozart diz “ver com muita tranquilidade a questão da disputa política”, mesmo tendo “sofrido muitas agressões através dessa campanha que procura atingir a honra das pessoas, desqualificando-as”.


O cientista político Juliano Domingues, que é professor da Universidade Católica de Pernambuco, acredita que para entender a implantação do Mais Médicos e suas repercussões negativas entre os profissionais brasileiros do setor, é preciso pensar em termos de políticas públicas e tentar responder aos seguintes questionamentos - “quem?”, “ganha o quê?”, “quando?”, “por quê?” e “que diferença faz?”. “Por meio de políticas públicas, os governos possuem a prerrogativa para alocar recursos. Ao distribuir esses recursos, eles mantêm, modificam e estruturam relações de poder. Alguns grupos ganham e outros perdem, ou deixam de ganhar. Sob o ponto de vista do governo, o Mais Médicos pode ser classificado como uma política voltada para o benefício coletivo e concentração de custos sob determinados grupos. Ao mesmo tempo, é possível interpretar que, sob o ponto de vista dos críticos ao governo, trata-se de uma política do tipo clientelista, em que os benefícios se concentram em grupos específicos, ao passo que os custos são diluídos de forma difusa na coletividade”, analisa.


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