A capacidade do Brasil de sediar um evento do porte da Copa do Mundo e os investimentos feitos pela União para viabilizar o torneio foram motivo de discussões frequentes entre governistas e oposicionistas nos últimos dois anos. Passado o torneio, que aconteceu sem grandes problemas fora de campo, tanto Dilma Rousseff quanto os candidatos de oposição deixaram o tema de lado. A presidente e seu adversário Aécio Neves chegam ao último debate, na noite de hoje, na Globo, sem tratar do assunto.
Levantamento feito pelo Broadcast Político, serviço da Agência Estado de notícias em tempo real, nos dois primeiros debates deste segundo turno - Band e SBT/UOL - mostra que o maior torneio de futebol do mundo raramente foi usado pelos candidatos. No embate da TV Bandeirantes, nem Dilma nem Aécio citaram a palavra Copa. Já no encontro do SBT, considerado o mais agressivo da campanha até aqui, a palavra Copa foi citada pela presidente Dilma apenas em duas oportunidades: na primeira quando acusou rapidamente os adversários de serem "pessimistas" e depois quando falou do esquema de segurança implantado durante o torneio e que pretende replicar em seu segundo mandato. No debate da Record, a organização do torneio também não foi tema de discussões.
"Não apareceu. Nem o evento nem o que a oposição poderia explorar, que são os custos. Não sei por que não explorou, teria mais apelo do que Petrobras. Há dados, auditoria, documentos", analisa o professor da Fundação Getúlio Vargas Marco Antônio Carvalho Teixeira. "No mínimo um pedido de explicação em debate poderia ter tido, perguntar por que custou tanto em Brasília, por exemplo", completa.
O espaço dado ao tema durante a campanha é pequeno se comparado à importância da discussão antes do evento. A Copa do Mundo esteve no centro do embate político nos últimos anos. Muitas das obras de infraestrutura não ficaram prontas e os gastos do governo e os financiamentos do governo dos estádios que sediaram os jogos foram alvos de crítica pela oposição. A discussão cresceu em junho do ano passado, quando foi realizada a Copa das Confederações e as pessoas foram às ruas querendo saúde, educação e transporte "padrão Fifa".
Desde que Dilma foi vaiada na abertura do torneio preparatório em Brasília, discutiu-se os impactos dos investimentos nos estádios na popularidade da presidente. No início do ano, analistas diziam que um fracasso na organização do torneio poderiam decretar a derrota de Dilma. A presidente foi xingada no jogo de abertura e o sucesso na organização da Copa foi comemorado pelo governo, mas não entrou no leque de argumentos da campanha pela reeleição da presidente. João Santana criou "Pessimildo", boneco que ironizava os que diziam que a Copa não daria certo, mas o personagem teve vida curta.
"A verdade é que nenhum dos dois lados se sente à vontade para debater a Copa. A oposição apostou em problemas que não ocorreram, mas o governo também preferiu não ressuscitar o debate sobre os gastos com os estádios", analisa cientista político e professor da Universidade Federal de São Carlos, Fernando Azevedo. Para ele, como nenhum dos lados enxergou uma maneira de tirar vantagem eleitoral do evento, criou-se "um acordo implícito" entre as candidaturas. "São temas que não davam vantagens para nenhum dos dois lados", completa.
Teixeira acredita que um dos motivos de o torneio não ter virado argumento eleitoral da oposição é o fato de ter sido um evento organizado em parceria com Estados governados por vários partidos. O governo de Minas, então comandado por Aécio Neves, se candidatou e conquistou o direito de sediar o evento. Aécio tentou inclusive que Belo Horizonte fosse o palco do jogo de abertura.