Temer diz que Polícia Federal está instrumentalizada

Operação da Polícia Federal abriu uma crise entre o Palácio do Planalto e a cúpula do PMDB, principal aliado do governo Dilma
Danilo Galindo
Publicado em 26/09/2014 às 8:45
Operação da Polícia Federal abriu uma crise entre o Palácio do Planalto e a cúpula do PMDB, principal aliado do governo Dilma Foto: Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil


Uma operação da Polícia Federal abriu uma crise entre o Palácio do Planalto e a cúpula do PMDB, principal aliado do governo Dilma Rousseff. Após denúncia anônima, equipe da PF vistoriou na madrugada de ontem, no interior do Maranhão, um avião da campanha do senador Edison Lobão Filho, candidato ao governo do Estado. A suspeita, não confirmada pelos agentes federais, era de dinheiro de caixa 2 de campanha na aeronave.

Numa atitude inédita, o vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), divulgaram notas públicas em que classificaram a ação da PF contra o correligionário de “intimidatória”. Temer - que compõe novamente a chapa presidencial encabeçada pela petista Dilma Rousseff - disse que é “inadmissível que forças policiais sejam instrumentalizadas para atingir candidaturas legitimamente constituídas”.

O senador e candidato a governador é filho do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB), e aliado do senador José Sarney (PMDB-AP). Os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e da Justiça, José Eduardo Cardozo, entraram no circuito para colocar “panos quentes” e tentar acalmar os peemedebistas.

Segundo relatos, uma equipe de nove agentes da PF comandada pelo delegado regional na cidade de Imperatriz, Paulo de Tarso Cruz Vianna Junior, abordou, com armas em punho, a equipe de campanha de Lobão Filho no hangar do aeroporto local. Eles revistaram o piloto e o copiloto e depois o avião da campanha e os carros. Após nada ser encontrado, o grupo dirigiu-se ao local onde estava Lobão Filho, em uma sala próxima. O candidato do PMDB protestou contra a abordagem.

Ele disse ao Estado que o delegado não disse de quem partiu a denúncia anônima e em seguida deixou o local. Lobão Filho retornou a São Luís e logo cedo foi iniciada uma operação em busca de explicações.

Lobão Filho falou pelo telefone com Temer, com Renan e com a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, sobre a ação da PF. O pai ministro procurou o colega da Casa Civil.

Informada do fato, Dilma se reuniu com o comando de campanha e com Mercadante e Cardozo no fim da tarde. O caso e sua repercussão foram discutidos no Palácio da Alvorada.

 

‘Republicana’

O episódio em Imperatriz está sendo tratado como um erro da PF local, e não como uma ação do comando da instituição em Brasília. Cardozo enviou ofício à direção da PF, subordinada a ele, determinando a “apuração rigorosa” do fato (mais informações abaixo).

De acordo com informações do Palácio do Planalto, a presidente defendeu a apuração sem que seja beneficiado um lado ou outro. “Temos de fazer isso de forma absolutamente republicana”, afirmou Dilma.

Dentro e fora do Palácio do Planalto, ministros consultados pelo Estado consideraram a atitude da PF “um exagero”, “uma medida desproporcional”, já que não havia um inquérito ou um mandado.

Lobão Filho também anunciou ter apresentado seis medidas judiciais e administrativas para apurar o caso, entre elas um requerimento para que a PF explique as razões da abordagem. O candidato disse que a ação tinha por objetivo prejudicar sua campanha na reta final do 1.º turno. Segundo o Ibope, o candidato do PC do B, Flávio Dino, lidera a disputa estadual com42% das intenções de voto, ante 30% de Lobão Filho.

“A Polícia Federal não pode ser utilizada num instrumento eleitoral para uma campanha. Foi um constrangimento”, disse o peemedebista. “Me custa crer que a cúpula da PF tenha participado disso.” A reportagem não localizou os outros citados e a PF não se pronunciou. 

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