Itamaraty perseguiu exilados e colaborou com repressão, diz relatório

Comissão Nacional da Verdade afirmou que Itamaraty desvirtuou suas funções a ponto de envolver-se diretamente com a violência ilegal e com a exceção
Da Agência Brasil
Publicado em 10/12/2014 às 13:34


A Comissão Nacional da Verdade acusou o Ministério das Relações Exteriores de colaborar com a repressão política, perseguir exilados e atentar contra os direitos humanos durante a ditadura militar (1964-1985).

No relatório final divulgado nesta quarta-feira, o órgão afirma que o Itamaraty "desvirtuou suas funções a ponto de envolver-se diretamente com a violência ilegal e com a exceção".

O documento também reúne novas provas de que a diplomacia brasileira colaborou com outras ditaduras do Cone Sul na chamada Operação Condor. São listadas 18 vítimas que morreram no exterior, entre 1973 e 1980.

Entre as novas provas do relatório, estão registros de pagamentos a informantes encarregados de vigiar brasileiros no exterior. A prática foi negada por todos os diplomatas ouvidos, mas está registrada em papéis localizados no Itamaraty e no Arquivo Nacional.

Foram encontradas referências a "despesas de caráter reservado" e pagamentos a "fontes de informação especial", além dos codinomes de informantes que prestavam serviço aos postos diplomáticos.

Para a Comissão da Verdade, o Itamaraty "desrespeitou os direitos humanos e as garantias constitucionais dos nacionais e não exerceu a proteção desses direitos e garantias a seus nacionais no exterior".

O relatório afirma que a diplomacia restringiu direitos fundamentais de brasileiros no exterior, vigiando seus passos, criando embaraços para sua vida cotidiana e negando a concessão de passaportes.

O texto identifica cinco ex-chefes do Ciex (Centro de Informações do Exterior), órgão secreto de espionagem que funcionou no Itamaraty. Os dois sobreviventes foram ouvidos, os embaixadores Marcos Henrique Camillo Cortes e José Carlos Pessoa Fragoso, e negaram envolvimento com a repressão.

A comissão afirma que a responsabilidade pelos abusos se espalhou pela cadeia de comando do ministério, dos chanceleres aos quadros inferiores do Ciex, e conclui que "a diplomacia brasileira deverá se obrigar a compreender como foi possível se deixar capturar por esse envolvimento direto no terrorismo de Estado com tão graves consequências para as vidas de tantos brasileiros".

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