O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, preso nesta segunda-feira (3) em nova fase da Operação Lava Jato, já esperava que fosse detido.
O relato de amigos e aliados que conversaram com ele nas últimas semanas é de que o petista demonstrava estar fragilizado emocionalmente e fisicamente, mas conformado com a possibilidade de ser novamente preso durante o cumprimento de pena domiciliar pelo escândalo do mensalão.
Segundo a descrição deles, o número dois no início do governo do ex-presidente Lula estava abatido, com olhar perdido e sem a voz de comando característica de seu tempo de militância política e de trajetória partidária.
O petista havia perdido peso e estava preocupado com a possibilidade de também ser detido seu irmão, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, sócio dele na JD Consultoria. Os dois foram presos nesta segunda-feira (3), em nova fase da Operação Lava Jato.
Em sua residência em Brasília, onde cumpria prisão domiciliar, José Dirceu passava boa parte do tempo nas últimas semanas com sua filha mais nova, Maria Antônia, de 5 anos.
Nesse período, seu advogado, Roberto Podval, chegou a dormir duas noites em sua residência.
"Dirceu tinha vontade de ser redescoberto depois do mensalão, mas agora a vontade dele era de ser esquecido", resumiu um aliado petista.
Ele acordava cedo e fazia questão de ler todos os jornais, blogs e sites jornalísticos. Em um caderno, fazia anotações do que considerava incongruências e equívocos nas acusações contra ele.
Com quem conversava, negava sistematicamente que havia recebido propina.
O ex-ministro da Casa Civil foi citado em depoimento pelo ex-executivo da Toyo Setal Julio Camargo, segundo o qual entregou R$ 4 milhões em dinheiro vivo ao petista a pedido do ex-diretor da Petrobras Renato Duque.
Ele virou alvo dos procuradores da Operação Lava Jato porque várias empreiteiras sob investigação fizeram pagamentos à empresa de consultoria que ele abriu depois de deixar o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2005, no auge do escândalo do mensalão.
O ex-ministro faturou como consultor R$ 39 milhões entre 2006 e 2013. Empresas investigadas pela Lava Jato pagaram a ele R$ 9,5 milhões, num período em que o diretor de Serviços da Petrobras era Renato Duque, apontado como afilhado político de Dirceu -o que ele nega- e atualmente preso em Curitiba.