O doleiro Alberto Youssef procurou "espontaneamente" a PGR (Procuradoria-Geral da República) para prestar depoimento reclamando sobre pressão da CPI da Petrobras contra seus familiares, que ele atribuiu à influência do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
O depoimento, prestado em 23 de julho, foi anexado à denúncia apresentada na quinta-feira (20) pela PGR contra o presidente da Câmara, embora não tenha sido usado para embasar a ação penal. O fato pode, posteriormente, ser usado como argumento para um pedido de afastamento de Cunha. Youssef tem acordo de colaboração premiada com o Ministério Público.
No relato, Youssef afirmou que, cerca de um mês depois de ter falado em audiência na Justiça Federal que Cunha era destinatário de propina, a CPI da Petrobras aprovou a convocação e quebra de sigilo de suas duas filhas e de sua ex-mulher. Os requerimentos foram apresentados pelo deputado Celso Pansera (PMDB-RJ), aliado de Cunha, que foi acusado por Youssef de ser "pau-mandado".
O STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou a quebra de sigilo, entendendo não haver justificativas. Com isso, a CPI aprovou pela segunda vez a medida, e o Supremo novamente a derrubou.
O doleiro contou que, após a aprovação dos requerimentos na CPI, suas filhas e ex-mulher lhe visitaram na prisão e "se mostraram muito incomodadas e preocupadas com a convocação para depor perante a CPI, em razão da exposição a que estariam sujeitas".
Segundo Youssef, elas "não estavam preocupadas, embora se sintam constrangidas, com as quebras de sigilo". Ele afirmou à PGR que nem suas filhas nem sua ex-mulher participaram das atividades ilícitas do doleiro.
No depoimento, o doleiro cita nominalmente o deputado Celso Pansera, autor dos requerimentos, e diz que nenhum dos outros investigados na Operação Lava Jato teve seus parentes investigados pela CPI, embora alguns sejam formalmente investigados pela Polícia Federal e Ministério Público.
Ele diz que "essa diferença de tratamento entre seus parentes e o de outros investigados na condução dos trabalhos da CPI, havendo a CPI passado a investir contra seus parentes depois de seu depoimento incriminador de Eduardo Cunha, mostra que a intenção da CPI é a de inibir o declarante a revelar fatos incriminadores [...] e retaliar pelos fatos já revelados".
O presidente da CPI da Petrobras, Hugo Motta (PMDB-PB), e o deputado Celso Pansera têm negado que a CPI pressione ou intimide. Afirmam que a comissão atua para investigar e por conta própria, sem interferência de Cunha.