O empresário Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC e apontado como chefe do cartel de empreiteiras investigado na Operação Lava Jato, disse em depoimento que três caciques do PMDB receberam dinheiro desviado de contratos para a retomada da construção da Usina nuclear de Angra 3.
De acordo com reportagem da revista "Época", o então ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o senador Romero Jucá (RR) dividiram uma propina de R$ 4 milhões de um lote de R$ 30 milhões. Os valores teriam sido acertados para o PMDB em troca da confirmação das assinaturas dos contratos da usina, que somavam R$ 3,1 bilhões.
No final de julho, uma nova fase da Operação Lava Jato resultou na prisão presidente licenciado da Eletronuclear, o almirante reformado Othon Luiz Pinheiro da Silva, sob a suspeita de recebimento de R$ 4,5 milhões em propina. Para os investigadores, o esquema replicava o ocorrido na Petrobras, com o uso de licitações fraudadas, superfaturamento e pagamento de propinas a dirigentes da estatal e a políticos.
A revista reproduz trecho de depoimento de Ricardo Pessoa, que em troca da redução de pena se tornou um dos principais delatores da Lava Jato.
Renan, Lobão e Jucá já são investigados pela Procuradoria-Geral da República sob suspeita de participação no esquema de corrupção da Petrobras.
No caso de Renan, "Época" reproduz trecho de delação em que Pessoa afirma ter jantado com o presidente do Senado nas semanas anteriores às eleições de 2014, no hotel Emiliano, em São Paulo. Segundo o empresário, Renan pediu uma contribuição de R$ 1,5 milhão para a campanha do filho ao governo de Alagoas.
"O declarante interpretou, da conversa com o senador Renan Calheiros, que havia um vínculo entre a assinatura do contrato de Angra 3 e as doações oficiais à campanha de Renan Filho."
Sobre Lobão, Pessoa disse em seu depoimento que procurou o ministro por sugestão do presidente da Eletronuclear. Segundo o relato reproduzido pela revista, Lobão cobrava pressa no fechamento do contrato para Angra 3 porque "tinha interesse em obter das empresas ganhadoras contribuições de campanha para o PMDB".
O ministro teria falado em um percentual de até 2% do contrato, mas, segundo Pessoa, ficou acertado R$ 30 milhões, com adiantamento a Lobão de R$ 1 milhão, pagos em espécie, antes da assinatura do contrato.
Em relação a Jucá, Pessoa afirma ter havido três ou quatro jantares nos hotéis Emiliano e Fasano e que em um deles o senador pediu R$ 1,5 milhão para a campanha do filho a vice-governador de Roraima. O empresário igualmente interpretou o pedido como fruto de Angra 3, embora registre que Jucá não fez menção à obra.
Renan e Lobão negam qualquer participação em corrupção. O presidente do Senado confirmou o encontro com o empresário, mas disse que a doação foi obtida dentro do que "permite e prevê a lei" e que jamais fez solicitação de contribuição que pudesse pressupor desvio de recursos.
O advogado de Lobão, Antonio Carlos de Almeida Castro, afirmou que a acusação não procede e que a delação padece de um velho problema desse mecanismo, que é a "invenção de histórias próprias" com o objetivo de redução da pena. "Delação no Brasil virou verdade absoluta. Isso tem que ser visto com a devida ressalva."
A reportagem não conseguiu falar com Jucá. À "Época" ele disse não ter participado "de nenhuma irregularidade em contratos com qualquer estatal".