No dia em que a tragédia decorrente do rompimento de duas barragens da mineradora Samarco, em Mariana (MG), completa cinco dias, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o governo federal está "extremamente preocupado" com a situação. A presidente afirmou que sua preocupação se estende também aos municípios do Espírito Santo vizinhos abastecidos pelo rio Doce, invadido pela onda de lama.
A presidente esteve na manhã desta terça-feira (10) em Nova Friburgo, região Serrana do Rio, em cerimônia de entrega de casas do Minha Casa Minha Vida para vitimas das chuvas que atingiram a cidade em 2011. Naquela ocasião, cerca de 480 pessoas morreram, de um total de quase mil mortos em toda a região, vítimas de deslizamentos de encostas e inundações.
Diferentemente do ocorrido há quatro anos no Rio, em que a presidente visitou Nova Friburgo 24 horas depois do início da tragédia, Dilma ainda não foi pessoalmente à Mariana. A reportagem apurou que a presidente considera visitar a cidade mineira no próximo final de semana.
Um dia depois do rompimento da barragem da Samarco, empresa fruto de sociedade entre a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, a presidente anunciou pelo seu perfil oficial no Twitter que estaria liberando o Fundo de Garantia às vítimas do desastre.
"Nós estamos extremamente preocupados porque duas barragens se abriram no Estado de Minas e uma onda de água e lama está chegando ao Rio Doce. Temos também que olhar para a situação do Espírito Santo e o governo federal se coloca inteiramente a disposição. Já estivemos em Minas Gerais e vamos acompanhar a situação do Espírito Santo", disse, referindo-se à possibilidade de haver problemas de abastecimento de água em cidades capixabas, em decorrência do acidente. A presidente não falou com a imprensa.
CASAS
O governo fez nesta terça (10) a entrega simultânea de 1.799 apartamentos do Minha Casa Minha Vida, em três cidades do Estado do Rio e uma do Espírito Santo.
A presidente participou da entrega de 300 apartamentos em Nova Friburgo. A cidade foi atingida por uma forte chuva, em 2011. Cerca de 2 mil pessoas ficaram desabrigadas na cidade.
Os beneficiários de casas são pessoas que perderam suas moradias no desastre. Diferentemente do que ocorre usualmente no Minha Casa Minha Vida, as pessoas receberão a casa sem precisar pagar as prestações à Caixa, banco responsável pelo programa. Os novos moradores terão de arcar somente com custos de condomínio, de cerca de R$ 40, e contas.
As moradias fazem parte do condomínio Terra Nova 7. Já foram entregues em Friburgo 1.400, de um total de 2.180. Segundo a Caixa, ainda faltam serem entregues 480 apartamentos, cujo prazo é início de 2016.
VÍTIMAS
A plateia era formada basicamente por vítimas da tragédia de quatro anos atrás. A presidente foi recebida com um misto de palmas e vaias, que logo cessaram. Durante seu discurso, ela foi aplaudida algumas vezes.
Coube ao prefeito de Nova Friburgo, Rogério Cabral (PSD), ser o alvo de sonoras vaias. Durante todo o primeiro minuto de sua fala, sua voz foi abafada por vaias e gritos de "fora". Ele chegou a ter que levantar a voz para ser ouvido. Cabral integrou a aliança "Aezão", entre apoiadores do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, e o então candidato à presidência Aécio Neves (PSDB) nas eleições passadas.
A auxiliar de produção Adriana de Oliveira, 37, aguardava para receber suas chaves. Ela, que morava em um bairro situado ao pé de uma encosta, perdeu um irmão de 17 anos na tragédia de 2011. Ela lembra dos momentos difíceis que passou ao ficar sem casa e tendo que cuidar de seu filho, então com sete anos de idade. Irá morar em um apartamento de 43 metros quadrados com seu filho, hoje com 11 anos.
Adriana disse estar feliz com a nova moradia, mas reclamou da demora de quatros anos para a conclusão dos condomínios. Ela e diversas pessoas que conversaram com a reportagem alegaram não ter recebido o aluguel social prometido pela prefeitura e pelo Estado. Esse foi um dos motivos para a vaia ao prefeito local.
"Vou bater palma [quando a presidente chegar] porque vou receber minha casa, mas ela [Dilma] não faz mais do que a obrigação".
A moradora se queixa também da falta de escolas e creches na região do bairro de Conselheiro Paulino, que é afastado do centro da cidade. O governo do Estado do Rio prometeu dar início a construção de duas escolas e um posto de saúde na região.