O muro erguido em Brasília para separar manifestantes políticos anti e pró-governo ganhou uma nova utilidade: "rede" de voleibol. Um grupo de pessoas foi até a Esplanada dos Ministérios no fim da tarde desta sexta-feira (15) e resolveu jogar uma partidinha amistosa. A polícia acabou com a brincadeira em cinco minutos. Simbolicamente, ninguém venceu.
A ação foi uma espécie de protesto contra as chapas de aço instaladas como principal medida de segurança para este domingo, quando 300 mil pessoas devem acompanhar a decisão da Câmara dos Deputados sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff. "Esse discurso de polarização é muito esquizofrênico. Tivemos que pensar em outras alternativas", disse uma das participantes, Neusa Barbosa, depois de marcar um ponto para o seu time.
Dezenas de outras atividades - como pintura, estêncil, performances e colagens - ocorreriam em 12 fragmentos do muro, em um trecho logo em frente à Catedral, no Eixo Monumental de Brasília. Mas, aparentemente, há também um muro entre o governo do Distrito Federal, que havia autorizado as intervenções, e a polícia, que não permitiu a presença dos manifestantes no gramado. "O gesto é nobre, mas, infelizmente…", disse uma policial, orientando-os a passar para o lado de fora do cercado.
A solução foi usar um restinho de muro para realizar as intervenções. O grupo, que articulou o encontro via redes sociais, criou uma "ponte humana" para que as pessoas pudessem passar de um lado para outro. Na manhã deste sábado, a ideia é testar um telefone de lata, para ver se os grupos isolados conseguem, pelo menos, se comunicar. Também foram instalados balões, flores e cartazes com as inscrições "Não importa o motivo da guerra, a paz é mais importante" e "Mais pontes, menos muros".
"Estamos aqui porque não nos alinhamos com nenhum dos extremos da conjuntura política. Não há só dois lados", afirmou um dos organizadores do evento, Eduardo Rombauer. O propósito também não é criticar o muro em si. "Consideramos a importância da segurança, mas questionamos como o povo brasileiro chegou a esse ponto, de ser necessário um muro para evitar o pior".