“Não vinha aqui há 13 anos”, disse o deputado tucano Jutahy Junior (BA) ao entrar no Palácio do Planalto para a posse do presidente interino Michel Temer (PMDB), na última quinta-feira. Desde 2003, quando Fernando Henrique Cardoso e o pernambucano Marco Maciel entregaram a gestão ao PT, o PSDB e o DEM estão fora do governo, mantendo-se como os principais partidos de oposição do País. Agora, com Dilma Rousseff (PT) afastada, tucanos e democratas voltam a frequentar, como coadjuvantes do PMDB, a Esplanada dos Ministérios, com quatro pastas: Educação e Cultura (Mendonça Filho), Cidades (Bruno Araújo), Relações Exteriores (José Serra), e Justiça e Cidadania (Alexandre de Moraes).
Dias antes da posse de Temer, parte dos tucanos ainda tinha resistência a integrar o governo, temendo que o projeto presidencial do PSDB fosse afetado por um mal desempenho do peemedebista. O martelo só foi batido depois que o presidente interino sinalizou não ter disposição para ir à disputa em 2018.
“Existe esse risco e o PSDB sabe disso. Agora, ficar fora ia parecer uma deslealdade. Você viabiliza o impeachment e depois pula fora do barco. Entrar no governo não é uma garantia de que as coisas vão dar certo. Se o barco afundar, o PSDB vai junto”, diz o cientista político Ricardo Ismael, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Um dos efeitos do novo governo é a rearrumação na corrida presidencial do partido. Tidos como os principais pré-candidatos da sigla, o senador mineiro Aécio Neves e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, podem ver surgir mais um competidor: o novo ministro das Relações Exteriores, José Serra, que já concorreu duas vezes ao Planalto.
“Por incrível que pareça, Serra, que já foi visto como um cachorro morto, acaba tendo a possibilidade de ganhar visibilidade nacional. Coisa que Alckmin está tendo dificuldade”, avalia o professor Roberto Gondo, da Universidade Makenzie. “Mas vai depender do contexto. Temer tem que fazer um bom governo. E Dilma não voltar”, ressalta.
DEM - Para o DEM, o retorno ao governo pode ser ainda mais decisivo. Desde que passou à oposição, o antigo PFL perdeu peso político. Em 1998, última eleição como governista, a sigla chegou a eleger 105 deputados federais e 26 senadores. Hoje, mesmo em alta com o processo de impeachment, o DEM tem apenas 29 representantes na Câmara Federal e seis no Senado.
Para Roberto Gondo, porém, um ressurgimento da agremiação, em função do governo Temer, é uma visão remota. “Acho que o DEM vai continuar sendo um partido de coadjuvante. Na época em que ele foi PFL ainda era um partido de bases de apoio muito fortes. Mas hoje você tem muitos dissidentes que migraram para outras siglas, principalmente para o PSD, que deve ganhar força. O Brasil nunca foi disposto a discursos de direita”, explica.