Filho de Machado deu caminho de esquema que rendeu mais de R$ 100 milhões ao PMDB

Sérgio Machado, que teve sua delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), começou a ser investigado pela Lava Jato, em Curitiba, em 2014
Estadão Conteúdo
Publicado em 16/06/2016 às 14:56
Sérgio Machado, que teve sua delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), começou a ser investigado pela Lava Jato, em Curitiba, em 2014 Foto: Foto: Agência Petrobras


Expedido Machado da Ponte Neto, filho do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, entregou aos investigadores da Operação Lava Jato os detalhes de contas no exterior que foram abastecidas com a propina paga por empresas para o esquema do PMDB - que teria rendido entre 2003 e 2013 mais de R$ 100 milhões.

Did, como é conhecido Expedito, controlou as contas da propina do pai de 2007 a 2013. Nelas, afirmou ter atingido os R$ 73 milhões guardados com os repasses de empresas contratadas pela Transpetro, entre elas a Camargo Corrêa, UTC e a Queiroz Galvão. O acordo de delação do filho foi parte do acordo para que o homem-bomba do PMDB falasse.

Sérgio Machado, que teve sua delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), começou a ser investigado pela Lava Jato, em Curitiba, em 2014. Sob risco de ser preso junto com o filho, Machado decidiu entregar o que sabia e documentos para ajudar a Lava Jato a rastrear a propina do PMDB que foi desviada da Transpetro.

Investigadores da Lava Jato acreditam que os registros de depósitos que abasteceram essas contas e também os registros de saídas, com ajuda de cooperação internacional com a Suíça, levarão a dados sobre representantes e offshores ligadas aos políticos do PMDB e de outros partidos citados na corrupção da Transpetro - como o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra (morto em 2014).

Trust

O filho do delator afirmou ter usado em duas ocasiões contas de trusts - mesmo tipo de conta usada pelo presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e que ele nega ser dono - para guardar e movimentar a propina desviada da Transpetro. Uma delas é a Tartufo, primeira a ser integralmente controlada por ele, aberta no HSBC, em Zurique, na Suíça.

Did narra ainda que em 2012, criou uma nova trust, a Mattherhorn, no banco Julius Baer. "O valot total de propina recebido no HSBC equivalia à época ao montante de R$ 72,9 milhões", declarou o filho de Machado, ouvido no dia 10 de maio, pela Procuradoria-Geral da República. "Referida quantia representava pagamentos recebidos das empresas Queiróz Galvão, Camargo Corrêa, NM Engenharia, Galvão Engenharia, Devaran Internacional, Irodotos Navigation a títulos de vantagens ilícitas que somaram R$ 44,7 milhões." Did afirmou que nessa conta também estava incluso "pagamentos recebidos da HR Financial Services refentes a acordos que totalizaram R$ 28 milhões", uma empresa ligada ao grupo dono da Avianca, German Eframovich.

Mais de 20 nomes de políticos foram entregues por Machado em sua delação premiada com a PGR, em busca de uma redução de pena. Nos 11 anos que comandou a Transpetro, ele diz que repassou mais de R$ 100 milhões para membros do partido, principalmente para o presidente do Senado, Renan Calheiros (R$ 32 milhões), o presidente do partido Romero Jucá (R$ 21 milhões), o ex-presidente da República José Sarney (R$ 18 milhões), entre outros. Repasses em dinheiro em espécie, transferências a interpostos e doações eleitorais.

Did indicou quem eram os funcionários das empreiteiras indicados pelo pai para tratar das transferências das propinas para o exterior. No caso da Camargo Corrêa, por exemplo, ele indicou o nome de Pietro Bianchi como responsável pelas tratativas e a empresa Desarrollo Lanzarote SA, como caminho do dinheiro.

No caso dos pagamentos da Queiroz Galvão, ele afirmou que eram feitos por diversas origens e que perdeu o registro de identificação exato de quais depósitos estão relacionados a ela. Mesmo assim, com base nos nomes de empresas que fizeram depósitos listou alguns que podem ser relacionadas à empreiteira

Ocultação

Expedito Machado contou ainda que no final de 2014, quando a Lava Jato já investigava o pai por envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras, encerrou as contas e abriu uma terceira conta de trust, de nome Glacier. Esse fundo de investimento (trust) teve duas contas abertas em dezembro daquele ano, no banco PICTET, nas Ilhas Bahamas, e uma conta no banco UBS, na Alemanha.

Esses seriam valores da propina de Machado. O delator assumiu no acordo a devolução de R$ 74 milhões que ele teria recebido de propinas na Transpetro. Segundo seus termos, ele tirava, em média, R$ 2 milhões por ano em propinas.

Início

Segundo Sérgio Machado, a abertura das contas no exterior começou com o acerto de propinas com as empreiteiras Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, que haviam formado o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), contratado para construir dez navios. Os contratos eram parte do pacote de nacionalização das construções de navios e embarcações para a Petrobras, promessa de campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - batizado de Promef (Programa de Modernização e Expansão da Frota).

"A Queiróz Galvão e a Camargo Corrêa pediram que abrisse uma conta no exterior. Como nunca tinha tido conta no exterior nem offshore procurou seu filho Expedito", declarou Machado. O filho Expedito confirma a história, em sua delação, e diz que seu irmão Sérgio Firmeza Machado foi incluído no negócio, sem conhecimento de que os valores eram fruto de corrupção.

Em um de seus depoimentos, o ex-Transpetro relatou que o pagamento de vantagens ilícitas não se dava em virtude de medições, mas era deduzido da margem de lucro das empresas, 'sempre respeitando o orçamento técnico da Transpetro'. Sérgio Machado declarou que buscava os valores nas empresas selecionadas à medida que fazia os acertos com políticos em Brasília.

Para investigadores da Lava Jato, a versão contada por Machado e pelos filhos de que os pagamentos não estavam relacionados a sobrepreço e fraudes nos contratos, mas sim tirado da margem de lucro das contratadas, é questionável. Nos contratos da Petrobras em obras de construção e reformas de refinarias, perícias da Polícia Federal apontam que os valores do chamado "custo político" eram embutidos nos orçamentos dos projetos apresentados em licitações, elevando os custos das contratações públicas.

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