O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente em exercício, Michel Temer, podem disputar o segundo turno da eleição presidencial de 2018 - e Temer vencerá. A previsão, ou premonição, a ver, é do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que na segunda-feira reabre os trabalhos depois de duas semanas de recesso. "Se o Michel for confirmado presidente, e o governo chegar a 50% de ótimo e bom, ele é que será o candidato do nosso campo, quer queira, quer não", disse. "Nesse caso, há uma forte tendência de ir para o segundo turno e ganhar de Lula."
Maia botou a carroça na frente dos bois em entrevista ao Estadão, na segunda-feira da semana passada, na cafeteria de um hotel em São Conrado, bairro valorizado em que também mora, na zona sul do Rio. Ele sabe que Michel - como sempre se refere ao presidente em exercício - já declarou e reiterou que não é candidato à reeleição, sabe que há três emplumados tucanos afiando os bicos e que até o seu DEM, caso a presidência da Câmara o faça brilhar, pode almejar remotissimamente a candidatura presidencial em 2018.
"Tudo isso será nada se o Michel estiver muito bem, como eu acredito que pode estar; o caminho natural, então, é que os partidos da base construam entre si o pedido para que ele possa continuar", afirmou o deputado. "Eu sei que ele vai brigar comigo por estar dizendo isso, mas, olhando o cenário de hoje, e projetando 2018, o Michel vai ter dificuldade em negar esse pleito por parte dos partidos que compõem a base. É a única candidatura que pode unificar a base do governo." Maia tem dito, reiteradamente, estar "convencido" de que a presidente Dilma Rousseff não voltará. "Mas é óbvio, se eu estiver errado, que não serei hostil a governo algum."
O presidente da Câmara chegou ao hotel de São Conrado no final de uma manhã friorenta, a bordo de um vistoso e robusto utilitário de luxo, um dos veículos à sua disposição. O outro vinha atrás, com a segurança que o acompanha, para onde ele vá, desde a primeira hora em que ganhou a eleição, na madrugada de 14 de julho. "É um cargo de muito poder, e muda tudo", disse. "Opiniões que eu já tenho, há tempos, passaram a ter um outro valor (risos)."
A entrevista era seu terceiro compromisso daquela manhã. De lá, sem almoçar, ele iria para mais um - um encontro com o governador em exercício do Rio, Francisco Dornelles (PP), e depois, às 17 horas, voaria para Brasília, no avião oficial a que também tem direito, com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. "Não vou abusar do avião oficial", disse Maia no banco de couro do utilitário que o transportava. "Sempre que for possível, vou usar avião de carreira", afirmou.
O voo com Meirelles foi uma coincidência fortuita, para otimizar o uso do avião. Aproveitaram, claro, para afinar a sintonia dos desafios respectivos, decisivos para ambos, especialmente nas primeiras semanas em que Maia vai testar o seu poder. "Vamos ter dois meses de dificuldades para ter quórum, por causa das eleições, mas mesmo assim vamos ter de trabalhar e produzir, dois ou três dias por semana", disse.
Para esta primeira semana, ele acha que dá para garantir a votação do projeto de regulamentação da dívida dos Estados, "que é o mais importante no curto prazo". Como concorda com o essencial das principais propostas "do Michel" - novos impostos à parte, se vierem -, fica mais fácil para acelerar o ritmo. "Vamos estabelecer uma agenda e produzir o que for combinado", disse.
Quórum existindo, entrará na roda o pedido de cassação do mandato do ex-presidente e deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Maia jogou no time dele - e vice-versa -, mas percebeu, há não muito tempo, a hora de pular da canoa. "O erro do Eduardo foi ter tido poder demais e não ter sido capaz de entender que tudo é transitório na vida", disse, já à guisa de vá com Deus.
O novo presidente contou, ajeitando incômodos cem quilos na cadeira - já foram 88, lá atrás - que estava pensando seriamente em voltar para a iniciativa privada ao final deste quinto mandato. "De repente vem uma oportunidade dessas, um poder que muda completamente a minha trajetória política, pelo menos eu vou trabalhar para isso", disse.
Sua explicação para ter ganho a eleição contra Rodrigo Rosso (PSD-DF) - 285 a 170 - é "ter acreditado na tese dos deputados Orlando Silva [PC DO B-SP]e Carlos Sampaio, de que eu era o único que podia agregar os votos de parte expressiva da oposição". No domingo que antecedeu a eleição, Maia foi a Aécio Neves, o senador ainda algo presidenciável do PSDB. "Ou você decide me apoiar, já, ou o Centrão vai ganhar e 2018 está morto para todo mundo", disse a ele, como contou. Aécio respondeu: "Fica tranquilo, está resolvido. Vou jantar com o Michel e informá-lo". Michel foi informado, disse Maia.
Na terça-feira, véspera da eleição, houve um "almoço determinante" com Aécio e seus colegas senadores Agripino Maia (DEM) e Fernando Bezerra (PSB). Coube a este, em nome do senador tucano, ligar para o já postulante candidato de seu partido, Júlio Delgado, para dizer que não teria o apoio do PSDB. Maia ficou aliviado. Faltava enfraquecer a estratégia de Rosso - "criar um constrangimento para tirar o PT de mim". Mais uma vez o presidente em exercício entrou na história: "Falei com o Michel, e ele disse que era muito bom conversar com a esquerda", contou o deputado.
Maia acha que o governo passou a acreditar que ele ganharia a eleição na noite da terça-feira, ao constatar que os senadores procurados para interferir a favor de Rosso, na outra Casa, já estavam simpáticos à candidatura dele. A não ser que o Michel fechasse a questão - mas não foi o caso.
Maia não tem processos tramitando contra si - e nunca foi condenado por nada. Mas a Lava Jato descobriu, entre as mensagens do celular de Léo Pinheiro, sócio da empreiteira OAS, já condenado na primeira instância, uma mensagem em que ele pergunta ao empresário se "a doação de 250 vai entrar". E outra, dois dias depois, em que estica a corda: "Se tiver ainda algum limite para doação, não esquece da campanha aqui". Descobriu, também, que recebeu doação de uma empresa ligada à Odebrecht. Foi tudo para as mãos do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, que pediu mais informações a respeito ao Ministério Público Federal. "São doações de campanha, declaradas e perfeitamente legais", disse o presidente deputado. Chances de acabar se enrolando? "Zero", afirmou.