Uma dívida de campanha de R$ 9 milhões é motivo de atrito entre o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e o diretório nacional do PT. A divergência ocorre porque a legenda informou que não dará prioridade ao pagamento dos débitos da disputa na capital paulista.
Na semana passada, em reunião com dirigentes do partido para tratar do assunto, Haddad foi "muito enfático" ao pedir ajuda para saldar o valor remanescente, segundo pessoas que participaram do encontro. Ele, no entanto, deixou a reunião com as mãos abanando.
O tesoureiro do PT, o ex-deputado Márcio Macedo, não quis se comprometer com Haddad. Ele tem dito que sua prioridade é manter a saúde financeira e o bom funcionamento da máquina partidária. Se a situação financeira do PT melhorar, o que é muito pouco provável em meio à crise que a sigla passa, a direção partidária deve ajudar não só Haddad, mas outros candidatos que deixaram dívidas da campanha municipal deste ano.
Aliados do prefeito argumentam que o posicionamento da cúpula petista colide com o discurso adotado pelo partido antes da disputa. Na época, o PT nacional chegou a aprovar resolução política dizendo claramente que a campanha de Haddad seria a prioridade absoluta do partido nas eleições municipais.
O prefeito tem se queixado a interlocutores por ter sido "abandonado" pelo PT depois de perder a eleição no primeiro turno para João Doria (PSDB).
Em conversas reservadas, cardeais petistas usam palavras duras contra Haddad e dizem que o prefeito "nunca ajudou" o PT. Outro motivo de queixa de petistas em relação ao prefeito é a declaração feita por sua mãe, Norma Haddad, em ato na Avenida Paulista uma semana após o primeiro turno, quando ela disse que o filho não foi reeleito por causa da lealdade ao PT.
Na ocasião, apoiadores do prefeito organizaram um evento batizado de "Valeu, Haddad", quando o prefeito foi recebido aos gritos de "uh, governador" pela multidão.
Haddad e o PT nunca tiveram uma relação tranquila, mas pessoas próximas ao prefeito notaram um tom acima do normal nas críticas que ele tem feito ao partido.
O impeachment de Dilma Rousseff, a derrota nas eleições municipais e escândalos de corrupção tiveram impacto negativo nas contas do PT. Além de perder parte do "dízimo" pago por filiados que possuem cargos em administrações do partido, o PT teve três meses de repasse do Fundo Partidário suspensos pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes. A decisão se refere a irregularidades cometidas no pagamento de empréstimos feitos ao BMG, em 2009, depois do mensalão.
O partido vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para ganhar tempo, mas a falta de dinheiro já causou o adiamento do 6 º Congresso Nacional do PT, marcado para abril de 2017. A legenda recebe R$ 7,9 milhões por mês do Fundo Partidário.
Estes dados foram usados pela direção nacional do partido como argumentos na reunião com Haddad. Apesar disso, o prefeito ainda conta com ajuda da legenda para pagar a dívida.
A campanha custou R$ 16,5 milhões, dos quais R$ 1,5 milhão foi repassado pelo partido. Falta pagar R$ 9 milhões. "Contamos com repasses mensais do PT nacional para pagarmos esta dívida", disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), tesoureiro da campanha de Haddad.