"O presidente Lula tinha também uma forma bem-humorada de tratar dos pagamentos por fora que estavam em atraso. Para demonstrar que estava preocupado (...) vez por outra pergunta a João: "E aí, os alemães têm lhe tratado bem?" (os alemães, no caso, era a Odebrecht)", diz anexo da delação premiada de João Santana, tornada pública nesta quinta-feira (11).
João Santana e a mulher, Mônica Moura, foram responsáveis pelas campanhas do PT à Presidência da República em 2006, 2010 e 2014.
O anexo de delação premiada é o documento em que o delator informa ao Ministério Público Federal (MPF) o que vai contar no processo de delação. A colaboração de João Santana, assim como a de sua mulher, Mônica Moura, e de André Santana, funcionário do casal, foi assinada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Isso significa que, a partir de agora, o que foi dito à Lava Jato pode ser usado como base para a abertura de inquéritos ou reforçar investigações já em curso.
De acordo com João Santana, tanto Lula como a ex-presidente Dilma Rousseff sabiam que os atrasos nos pagamentos feitos ao casal se referiam a recursos não contabilizados.
Segundo o anexo da delação premiada de Santana, a primeira abordagem direta com Lula sobre caixa 2 se deu em 2009, "no episódio de ajuda à campanha de Mauricio Funes, em El Salvador, quando ele mandou João procurar diretamente Emilio Odebrecht".
Já com Dilma Rousseff, o tema teria sido abordado em "várias oportunidades" durante o seu primeiro mandato.
"Isso ocorreu, por exemplo, quando ela informou João no primeiro semestre de 2014 que havia viabilizado um meio de saldar, antecipadamente, todo o pagamento não oficial da sua campanha de reeleição. Algo em torno de R$ 35 milhões. A operação, segundo Dilma informou a João, seria articulada por Guido Mantega, por fora, sem registro contábil. Todavia isso não se efetivou", diz o anexo da delação.
De acordo com o delator, o tema caixa 2 e depósitos no exterior foram abordados ainda mais diretamente em setembro de 2014, quando Dilma perguntou se os depósitos no exterior feitos pela Odebrecht foram feitos de forma segura.
A mesma pergunta teria sido feita por Dilma Rousseff à empresária Mônica Moura, em novembro de 2014, quando a chamou às pressas para um encontro em Brasília.
Procurada pela reportagem, a assessoria do ex-presidente Lula informou que não vai comentar "declarações de pessoas que buscam benefícios judiciais" e que "delações, pela legislação brasileira, não são provas".
A assessoria de Dilma Rousseff informou que a defesa da petista ainda não teve acesso aos autos e que deve se pronunciar até o final do dia.
Procurada, a defesa de Mantega ainda não foi localizada. Em depoimento à Justiça Eleitoral, Guido Mantega disse que não pediu ao empreiteiro Marcelo Odebrecht doações nem para o PT nem para a campanha de Dilma ao governo em 2014. Mantega negou que tenha se envolvido na captação de recursos da campanha e sustentou que a participação foi restrita à formulação de propostas econômicas e à preparação de respostas para debates eleitorais da ex-presidente.