Daniel Coelho diz que PSDB se iguala ao PT ao apoiar Temer

Deputado federal do PSDB afirma que partido deveria sair da base de apoio do peemedebista
JC Online
Publicado em 16/06/2017 às 10:58
Deputado federal do PSDB afirma que partido deveria sair da base de apoio do peemedebista Foto: Divulgação


O deputado federal Daniel Coelho, do PSDB, tem se tornado um dos principais críticos do partido. Em entrevista ao Jornal do Commercio, ele explica a razão das contestações feitas à postura tucana no Congresso Nacional. O pernambucano também nega que esteja de saída do PSDB para ingressar no PSL. Confira, a seguir, a entrevista.

JORNAL DO COMMERCIO – Quais os principais prejuízos que o PSDB pode ter ao ficar na base do governo Michel Temer (PMDB)?

DANIEL COELHO – O maior prejuízo em estar no governo é o PSDB se igualar aos partidos que mais critica. Os partidos da esquerda tradicional, PT, PSOL, PCdoB e Rede, apontam as corrupções do PMDB com muita violência, mas dizem que o impeachment é golpe, que Dilma (PT) é inocente e Lula (PT) é perseguido. No momento em que o PSDB menospreza as denúncias contra Temer, mas continua a dizer que Lula deve ser preso, ele se iguala a esse campo oposto e fica na vala comum. A gente acha que é impossível o dia de amanhã não ser pior do que o dia de hoje. Novos fatos virão. A maneira como o governo é composto, que é o mesmo modelo que o PT adotou, é uma fábrica de escândalos. Dificilmente esse governo não vai produzir novos escândalos.

JC – Como o senhor votará se a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Temer chegar ao Congresso?

DANIEL – Quem do PSDB votar contra a abertura de investigação a Temer vai se igualar àqueles do PSOL, do PT e do PCdoB que eram contra investigar Dilma. Se Temer for inocente, vai ter direito de provar.

JC – Dá para o PSDB atrair tanto o eleitor do PT quanto o eleitor de Bolsonaro (PSC-RJ)?

DANIEL – Há um espaço gigante que pode ser ocupado pelo PSDB ou outros partidos porque hoje o que sobrevive é uma posição à esquerda que fracassou do ponto de vista ético, moral e econômico e na extrema direita não tem solução para os problemas econômicos do País. No meio disso tudo, tem espaço para alguém que queira discutir a reforma mais importante que o Brasil tem que fazer que é a reforma do Estado. Essa posição mais liberal e mais avançada está crescendo em diversos países. A eleição da França foi um exemplo disso. A esquerda fracassou, a extrema-direita chegou ao segundo turno, mas Macron, com esse pensamento liberal e mais conectado ao momento, conseguiu uma vitória esmagadora. É importante que alguém dê essa alternativa porque o pensamento liberal está ausente no quadro político brasileiro. Espero que o PSDB ocupe esse espaço com uma refundação ideológica e de posicionamento político.

JC – O senhor pretende deixar o PSDB como vem sendo cogitado?

DANIEL – No momento, meu pensamento não é mudar de partido.

JC – Chegou a receber um convite formal do PSL?

DANIEL – Não teve nada formal. Tenho uma excelente relação com as pessoas que fazem o PSL até porque Sérgio Bivar (integrante do partido e filho do ex-deputado Luciano Bivar) foi candidato a vice na minha chapa em 2016 e se tornou amigo pessoal. Eles estão em um processo de modificação, de transformar o PSL em Livres, e quem sabe eles não transformam o Livres nesse vetor que a gente está colocando? Eles seriam uma alternativa para o País. Não estou pensando no meu caminho, mas se eles saírem do PSL e o transformarem em um partido com esse vetor liberal e progressista eles vão ter um campo político. O caminho ao qual quero levar o PSDB é esse também.

JC – O PSDB deve ter candidato a governador em 2018?

DANIEL – A posição inicial é que tenha candidato e hoje o nome é o de Bruno Araújo (ministro das Cidades), mas sem imposição. O importante é que a gente consiga construir uma alternativa ao PSB, que aqui no Estado fracassou à frente do governo. Acho que não tem espaço para estar junto do PSB. É uma relação que não cabe mais, não há confiança nossa com o PSB e nem do PSB conosco, além do governo ser muito ruim. Espero que a gente construa o nosso palanque com o Democratas, que é um aliado histórico, e o PTB do senador Armando Monteiro, que está em um processo de reposicionamento. Vamos conversar e dialogar. Gostaria de ver o palanque nesse campo porque daria uma alternativa sólida e consistente para o Estado.

JC - O senhor é favorável à saída do senador Aécio Neves (MG) do PSDB ou acha que ainda tem espaço para ele no partido?

DANIEL - Ele está afastado, que foi uma decisão correta e tomada rapidamente. Agora, o que precisa é ele ser julgado e ter o direito de defesa. Aí vai ficar provado se ele é culpado ou inocente. Um dos grandes problemas que estamos vivendo no Brasil é que todos estão sendo denunciados e acusados e ninguém é julgado. Isso é ruim para o Brasil tentar virar a página para o processo democrático. Lula está com mais de 200 acusações e não é julgado em absolutamente nada. Dilma tem várias acusações. Temer agora deve sofrer formalmente acusações e não é julgado, assim como centenas de deputados e senadores. Então é muito importante que todos sejam julgados. Pelo que tudo indica, Aécio será julgado com brevidade. No caso dele, a Justiça parece estar agindo com velocidade. Até isso vai nos dar força para que a gente cobre uma situação semelhança para todos. Qual a justificativa para uma velocidade no julgamento de Aécio e o de Lula está uma novela de dois três anos e as pessoas têm medo de julgá-lo? A gente precisa criar também um equilíbrio e um sentimento para a população que todo mundo está sendo tratado de modo igualitário.

JC - Mas diante do que vem sendo apresentado pela Justiça e imprensa o senhor acha que há elementos para crer que Aécio é inocente?

DANIEL - As acusações são muito graves. Não ouvi a defesa dele. As acusações são graves contra ele, contra Lula, Dilma, contra várias pessoas. A gravação de Aécio é extremamente grave. A gravação entre Dilma e Lula, na época em que Dilma governava, era grave, de obstrução da Justiça, e ela não foi julgada até hoje. Quero que Aécio seja julgado. Se ele é inocente ou não quem tem que dizer é a Justiça. Eu não fico no papel... e poderia dizer ‘Lula é bandido’, mas não é essa minha colocação. Quero que Lula seja julgado. Se ele é bandido, quem vai dizer é a Justiça.

JC - Esse afastamento de Aécio do PSDB foi para valer?

DANIEL - Não tive mais contato. A gente teve uma reunião na última segunda-feira no partido, onde todos tiveram fala, votaram, opinaram e ele não estava presente. O que ele faz na casa dele a gente não pode ter controle. Mas da vida formal do partido, ele está afastado e não tem participado.

JC - Tasso Jereissati (CE) deve seguir na presidência do PSDB?

DANIEL - Não me defini em relação a isso. Elogio ele porque está agindo com isenção. Ele está tão imparcial que é difícil saber qual a posição dele. Nesse momento de crise, faz uma boa condução. Já houve o pedido para a convenção, mas a gente não aprofundou o debate. Num momento normal, todo mundo disputa a presidência de um partido. Nesse momento, não sei se haverá disputa. Vai se buscar algum tipo de consenso. Presidir o PSDB neste momento é muito mais missão do que um cargo que vá trazer algum tipo de vantagens ou prestígio político. O PSDB nasceu num momento em que a política brasileira tinha um espectro, vinha de uma Ditadura. Hoje, a política mudou de perspectiva, você tem novas correntes, o pensamento liberal avança no País, as teses históricas da esquerda fracassaram no Brasil e no mundo e o partido precisa se reposicionar. Acho que o novo presidente do partido vai ter essa missão de reposicionamento ideológico e ser um vetor de um segmento da sociedade.

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