Oficialmente não há nenhum nome posto dos membros da Operação Lava Jato na disputa para 2018. No entanto, as sondagens eleitorais começam a testar candidaturas como a do juiz federal Sérgio Moro, que comanda processos na primeira instância força-tarefa. Na última pesquisa Datafolha, ele, apesar de não ter partido político, em eventual segundo turno, seria o único a superar Lula numericamente, com empate técnico: 42% a 40%.
A um ano das eleições, nomes ligados às investigações são projetados como candidatos em potencial. Cientistas políticos avaliam esse grupo como uma “nova elite política”. A leitura é que das entranhas da Lava Jato nasceu essa ala que se coloca em oposição à política tradicional, com matrizes ideológicas ligadas a esquerda e a direita e marcadas pelas práticas doa conchavos, do clientelismo e do compadrios.
O cientista político Elton Gomes, professor da Faculdade Damas, no entanto, faz ressalvas quanto à atuação política desse grupo. Segundo ele, a equipe vai muito além do cumprimento da lei. Ele observa que a posição de “salvadores da pátria” e da cruzada armada contra os políticos tradicionais pode gerar componente explosivo para a democracia.
“Eles têm uma agenda e uma ideia de como deveria ser a política no Brasil e eles querem concretizar o ideal através de ações policiais”, explica. Na análise, o professor procura ir além da crítica ou do elogio à Lava Jato, ele lança luz sobre o estado de operação policial permanente. Segundo Gomes, nenhuma democracia é capaz de prosperar nesse terreno.
Já o professor Adriano Gianturco, de Ciências Políticas do Ibmec, avalia o movimento com naturalidade. Para ele, é saudável à democracia o fortalecimento da categoria. "A política é exatamente isso. Uma esfera de poder em que os mais diversos grupos da sociedade tentam fazer pressão", explica.
As 10 medidas contra a corrupção, campanha encabeçada pelos procuradores da República, são exemplo da força que o grupo exerce na sociedade.
Neste lastro, nomes como o do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato, começam a ganhar densidade. O Paraná Pesquisas incluiu o nome dele ao Senado daquele estado. Pelo levantamento, o procurador seria eleito com 29,6% dos votos. Dallagnol tem rodado o País fazendo palestras e participações em igrejas. Nos cultos, ele leva sua palavra sobre o combate à corrupção.
O professor de Direito Constitucional do Ibmec, de Minas Gerais, Vladimir Feijó argumenta que o traço negativo desse movimento é o fato do grupo ligado à Lava Jato atuar de forma “messiânica”.
“Eles agem como se estivessem salvando o País e purificando da corrupção que existe na política. Como se toda ela fosse só corrupção. Quando na verdade, política é a tomada de decisão em prol da sociedade. Ela em si não é corrupta. O que está em análise são as ações de pessoas corruptas e não a política como um todo”, afirma.
Feijó observa ainda algo crucial nesse processo. Para se filiar a algum partido político, os procuradores ou juízes precisam abandonar a carreira, não somente pedir licença. “A Constituição estabelece garantias para eles, mas determina que a lei orgânica também estabeleça um conjunto de deveres e dentro deles a lei, que está abaixo da Constituição proíbe a candidatura político-partidária”, explica.
Professor de Direito Eleitoral, Rogério Sanches, observa que, em meio às denúncias de corrupção, vai se destacar o político com perfil de gestor e honestidade ilibada. E, nesse espectro, se encaixam os perfis dessa “nova elite política”.
Para corroborar a análise, o professor explica as intenções do eleitorado brasileiro das últimas décadas. Ele lembra que, após a ditadura militar, a busca era por alguém que simbolizasse a renovação. Nesse lastro, elegeu-se o Fernando Collor, eleito com o ar da modernidade.
Em seguida, com a hiperinflação corroendo o bolso dos brasileiros, a procura era pelo nome que devolvesse a estabilidade econômica. Escolheu-se Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Lula veio sobre a esperança de se investir no social e equilibrar as desigualdades sociais do Brasil. Agora, com todos os ideais naufragados por denúncias de corrupção, a ética política pauta a escolha no próximo ano.
Sanches, entretanto, faz um alerta sobre a importância de diferenciar as competências. “É importante estabelecer que um grande promotor não vai ser, necessariamente, um grande administrador. Não se pode confundir as coisas”, avalia Sanches. “Não gosto de partir da premissa de que um grande nome de um poder será a salvação da pátria. Não nego que possa sê-lo, mas não acho que devemos fazer essa relação. Temos vários casos de ex-integrantes do Ministério Público e do poder Judiciário que hoje em dia administram governos de maneira extremamente questionável”, pontua.