Como a crise política atrapalhou retomada do crescimento?

Um após impeachment, Brasil ainda vive cenário de insegurança política e jurídica
Paulo Veras
Publicado em 27/08/2017 às 9:03
Um após impeachment, Brasil ainda vive cenário de insegurança política e jurídica Foto: Foto: José Cruz/Agência Brasil


Inflação mais baixa, taxa de juros menor, PIB melhor. No último ano, a economia deu sinais de recuperação. Mas passa longe do ritmo de crescimento que o Brasil experimentou no início da década. De Joaquim Levy a Henrique Meirelles, a crise política travou qualquer chance de retomada econômica. Na Lava Jato, diretores das principais empreiteiras do País acabaram atrás das grades. Só na Odebrecht, 77 executivos ou ex-executivos foram levados a firmar uma colaboração premiada devastadora para a política e para a maior construtora brasileira.

Sem saber que governo continuará e por quanto tempo, o investimento privado caiu ao menor nível desde 2003. Temendo ir para a cadeia, políticos mostraram mais empenho em se salvar de denúncias do que em fazer avançar uma agenda de reformas e de redução do gasto público. Enquanto isso, o desemprego cresceu.

Para José Luiz Pagnussat, ex-presidente do Conselho Federal de Economia, a mudança de governo alterou muito menos do que se esperava o cenário de risco do setor produtivo ante às decisões econômicas que seriam tomadas no Congresso Nacional. “O quadro de insegurança, inclusive de insegurança jurídica, continuou tão elevado quanto no período da Dilma. Uma vez que a Lava Jato continua crescendo no sentido de identificar novos casos. Isso gera uma incerteza muito grande para o setor produtivo. E risco é custo. Quando você inclui custo na decisão do setor produtivo, você reduz investimento em produção. Então a crise política é um fator determinante para o freio na retomada do crescimento”, explica.

Mesmo resultados positivos, como a excepcional safra agrícola de grãos, uma das melhores da história, que ajudou a derrubar a inflação de alimentos, se devem muito mais ao clima favorável de 2017 do que a políticas públicas, argumenta Pagnussat. Além disso, lembra o especialista, há aspectos na economia que atingem diretamente à população e mantém uma pressão social que retroalimenta a crise de representação. É o caso dos 13,5 milhões de desempregados que existem no Brasil hoje, de acordo com o IBGE.

REFORMAS TRAVADAS

Vendidas pelo governo como essenciais para retomada da economia, as reformas também ficam pela metade. O teto de gastos só funcionaria na prática com uma reforma que cortasse despesas da previdência. A proposta de alterar as regras da aposentadoria se arrastou por tanto tempo que se fragilizou. Foi atropelada pela denúncia contra Temer e por uma reforma política sob medida para criar as condições capazes de reeleger os parlamentares sem doações empresariais. No fim, o que seria o grande corte na Previdência deve passar de forma contida, apenas mudando a idade mínima.

“Tenho absoluta certeza que o próximo presidente terá que mexer na Previdência. O déficit e a trajetória desse déficit é muito grande. Então, mesmo que faça uma coisinha esse governo, o próximo vai mexer, com certeza absoluta, porque é uma conta insustentável”, projeta o economista Carlos Alberto Ramos, professor da UnB.

Ele explica como a crise de ordem política teve impacto devastador na economia. “Investimento se faz a longo prazo e você não sabia nem se Temer ia cair. Ou se o próximo governo vai revogar as reformas. O Lula, que aparece à frente nas pesquisas, tem dito em discursos que a reforma trabalhista tira direitos dos trabalhadores. A conjuntura é de muita incerteza. Há uma eleição no próximo ano e você não sabe nem quem poderá ser candidato. Imagina o presidente! Para o investidor, tudo isso representa um risco muito grande”, adverte.

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