O Comitê Olímpico do Brasil (COB) divulgou nota nesta terça-feira para rebater a acusação do Ministério Público Federal (MPF) de que Carlos Arthur Nuzman, presidente da entidade e do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de 2016, teria ajudado na suposta compra de votos que teria dado ao Rio de Janeiro a condição de cidade-sede da Olimpíada de 2016.
Na nota, assinada pelos dois advogados de Nuzman, Sergio Mazzillo e Nélio Seidl Machado, a defesa diz que a escolha da capital fluminense como sede olímpica aconteceu "dentro da lei".
"No depoimento prestado hoje [ontem] por nosso cliente, foi esclarecido e reiterado que toda a jornada olímpica da cidade do Rio de Janeiro, da candidatura à cerimônia de encerramento, foi conduzida dentro da lei e das melhores práticas financeiras, técnicas, operacionais, esportivas e de comunicação. Por isso, os Jogos foram um sucesso reconhecido no mundo inteiro", afirma o texto.
"Como não é do conhecimento dos advogados o inteiro teor da investigação, tão logo se conceda acesso pleno ao seu conteúdo, todas as indagações serão respondidas", diz a nota do COB.
Também procurado pela reportagem, o Comitê Organizador Rio-2016 não quis se manifestar sobre as denúncias envolvendo a escolha do Rio como sede da Olimpíada. O advogado de Cabral, Luciano Saldanha Coelho, afirmou que só vai se manifestar quando tiver acesso à denúncia não havia se manifestado até as 19h desta terça. A reportagem não localizou as defesa de Soares Filho e de Eliane Cavalcante.
A denúncia do MPF foi apresentada à Justiça pela Procuradoria da República no Estado, em investigação conduzida em parceria com a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Financeiro da França Os procuradores acusam Nuzman de ter ajudado no repasse, a um dirigente africano do Comitê Olímpico Internacional (COI), de dinheiro do suposto esquema de corrupção que teria sido chefiado pelo então governador Sérgio Cabral Filho (PMDB). A propina de US$ 2 milhões (cerca de R$ 6,2 milhões, ao câmbio atual) teria passado por uma conta em Antígua e Barbuda, no Caribe.
A Procuradoria sustenta em petição que "há fortes indícios de que Nuzman teve participação direta nos atos de compra de voto na escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016 e no repasse da vantagem indevida destinada a Sérgio Cabral". De acordo com a denúncia do MPF, a organização criminosa comandada por (Sérgio) Cabral comprou, por US$ 2 milhões, o voto do então presidente da IAAF (Associação Internacional de Federações de Atletismo), o senegalês Lamine Diack. Ele fazia parte do COI. Papa Massata Diack, filho de Lamine, teria intermediado a negociação e recebido a propina. Lamine teria influência sobre outros votos.
Nuzman foi conduzido à PF para prestar depoimento. Em busca e apreensão realizada em seu apartamento, no Leblon, a Polícia Federal apreendeu cerca de R$ 480 mil em dinheiro vivo. A quantia estava dividida em cinco diferentes moedas: real, dólar, euro, libra e franco suíço. Além disso, foi encontrado um passaporte russo, que teria sido obtido pelo presidente do COB como parte de outro esquema de corrupção. Nuzman está proibido de deixar o País e foi intimado a entregar todos os passaportes que possui.
O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, ordenou o bloqueio de R$ 1 bilhão das contas de Nuzman e dos empresários Arthur Menezes Soares Filho e Eliane Cavalcante, controladores da conta Matlock, em um banco em Antígua e Barbuda. Teriam comprado o voto no COI em troca de contratos de até R$ 3 bilhões com o Estado. Soares Filho era o controlador da Facility, intermediária na contratação de mão de obra terceirizada pelo governo estadual. A operação foi batizada de "Unfair Play" (jogo sujo, em tradução livre).
Foi também determinada pela Justiça a prisão preventiva do empresário, conhecido como "Rei Arthur" e de Eliane. Soares Filho está foragido, supostamente nos Estados Unidos, onde mora. A Interpol já foi acionada para localizá-lo. A empresária foi presa nesta terça em seu apartamento em Laranjeiras, na zona sul Eles são acusados de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.