Para o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, o Brasil hoje está numa fase de transformação, está se "redesenhando", e algumas mudanças são "irreversíveis". "Se a descentralização das concessões for interessante, vamos descentralizar", afirmou, em encontro com industriais na sede da Firjan.
Ao iniciar sua palestra, Guedes afirmou que ainda há empresários que esperam pelo protecionistas do governo, assim como acontece com sindicalistas. Em sua opinião, "o Brasil é um País rico, virou o paraíso de burocratas, de piratas privados, em vez de ser o País do crescimento econômico".
Porém, alguns empresários e políticos, como o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvea Vieira, e o governador eleito do Rio, Wilson Witzel, têm uma visão de aliança com o governo federal, elogiada pelo futuro ministro. "É o pacto federativo, o novo eixo de governabilidade. Acabou o toma-lá-dá-cá", disse.
Guedes disse que a "governabilidade não será como antes". O primeiro grande eixo político será temático, já que "as bancadas temáticas representam valores básicos da sociedade".
Além disso, destacou a vontade do novo governo de transferir renda da União para Estados e municípios, para recompor a federação. "Queremos recompor o federalismo, descentralizar o Estado", disse Guedes, acrescentando que a classe política também vai se reinventar. "(Políticos regionais) têm que ajudar a corrigir a hipertrofia do governo federal", afirmou.
Na avaliação de Guedes, o Brasil se transformou numa "enorme agência de transferência de renda, ao responder por quase metade do Produto Interno Bruto (PIB) ao fim do governo de Dilma Rousseff. A visão do novo ministro é que "há um responsável pela zoeira total: o gasto público sem controle" e que a Previdência é uma fábrica de desigualdade.
"Os gastos são tão altos que impostos tiveram que subir, os juros estão altos. Tivemos história difícil em economia. Hoje sabemos que temos que ter um Banco Central de olho na inflação. Quando o câmbio explodiu, com a tentativa de reeleição do FHC, aprendemos a flutuar câmbio", afirmou.
Guedes afirmou que Estados e municípios devem apoiar as reformas do Estado. "Se não apoiar vai lá pagar sua folha. Como ajudar quem não está me ajudando? Quero que dinheiro vá para Estados e municípios, mas me dê reforma primeiro", afirmou Guedes no evento.
Ele destacou que, no ano que vem, os governo vão ter dinheiro com o leilão de áreas de pré-sal excedentes da cessão onerosa. Para que o leilão aconteça, no entanto, espera contar com a ajuda das bancadas regionais no Congresso. "Vai ter dinheiro para todo mundo no ano que vem com cessão onerosa, se Estados e municípios me ajudarem", disse.
As críticas atingiram também os empresários que compõem a plateia para a qual o futuro ministro falava. "Tem que meter a faca no Sistema S também. Estão achando que a CUT perde o sindicato, mas aqui fica tudo igual? Como vamos pedir sacrifício para os outros e não contribuir com o nosso?", afirmou Guedes, acrescentando que os empresários parceiros sofrerão menos cortes que os demais. "Se tiver a visão parceira do Eduardo Eugênio corta 30%, se não tiver, corta 50%", acrescentou.
Guedes reiterou a necessidade de formar um pacto federativo envolvendo políticos das esferas estaduais e municipais. "Estamos prontos para ajudar. Acabou o toma-lá-dá-cá. Vamos fazer bonito", disse.
Guedes voltou a refutar a ideia de que o futuro governo Jair Bolsonaro possa representar ameaça à democracia. Segundo o economista, os poderes da democracia estão funcionando e há liberdade de imprensa. "Vamos criar uma nova história, os poderes são independentes, tem um quarto poder importante, que é a mídia", afirmou Guedes.
Guedes ponderou, no entanto, que a imprensa "não entendeu" o fenômeno político da eleição de Bolsonaro.