Desde que chegou à prisão de Curitiba em 7 de abril de 2018, Luiz Inácio Lula da Silva deixou o local somente duas vezes. Uma delas para ir ao velório de seu neto, diante de um horizonte judicial que não dá margem para otimismo.
O ex-presidente de 73 anos, entretanto, não se deixa abater. Faz exercícios diariamente na esteira que tem em sua cela de 15 metros quadrados e está determinado a provar sua inocência diante do que considera uma "farsa judicial" para afastá-lo do poder.
"Obviamente que ele ficou muito abalado, muito triste com a morte do neto", disse a presidente do PT Gleisi Hoffmann, referindo-se à morte repentina de Arthur, de 7 anos, no dia 1 de março.
"Mas do ponto de vista político, de enfrentamento de todas essas injustiças ele continua muito firme", acrescentou Gleisi, assídua visitante no quarto andar da sede da Polícia Federal em Curitiba.
O patriarca da esquerda passa grande parte do tempo lendo, escrevendo as cartas que depois são publicadas pelo partido, informando-se e assistindo aos jogos do seu querido Corinthians pela televisão.
As notícias levadas por seus advogados em suas duas visitas diárias não poderiam ser piores. Nenhum recurso foi capaz de libertá-lo e, na última quinta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) adiou sem data definida as discussões da próxima semana sobre uma mudança de jurisprudência para os condenados em segunda instância, que poderia levá-lo à liberdade.
O novo revés deixa tudo nas mãos do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que poderá examinar seu recurso nos próximos dias. A prisão domiciliar tem sido mencionada, mas não há nada concreto neste caso sem precedentes.
"O cenário para Lula passa a ser o STJ", embora "os índices de alteração de pena e reversão de condenação sejam baixas, estatisticamente falando, tanto no STJ como no STF", explica Silvana Batini, procuradora e professora de Direito na Fundação Getúlio Vargas.
"Mas, obviamente, a questão de Lula é excepcional", ressalva.
Lula foi condenado em primeira e segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso do tríplex do Guarujá.
Em fevereiro deste ano, foi sentenciado a outros 12 anos e 11 meses, pela acusação relativa ao sítio de Atibaia. A primeira vez em que Lula deixou a carceragem da PF, em novembro, foi justamente para depor sobre este caso.
Se a pena do ex-presidente no caso do sítio de Atibaia for confirmada pela segunda instância, suas condenações somarão 25 anos. Ele poderá, contudo, ser beneficiado pelo regime semi-aberto após quatro anos de cumprimento da pena, caso não seja condenado em outro processo.
Neste domingo, Lula completará um ano na prisão em meio a uma série de atos que pretendem relançar a já desgastada campanha "Lula livre".
A expectativa é de que os pesos pesados do PT voltem a se reunir na frente do prédio da PF em Curitiba, onde dezenas de apoiadores em vigília desde o primeiro dia da prisão gritam em coro todas as manhãs "Bom dia, presidente Lula" e se despedem às 19H00 com um "Boa noite".