Atualizada às 12h20
"Patético, absurdo e inacreditável". Foi assim que o cientista, doutor em ciência da computação e idealizador do Porto Digital, Silvio Meira, classificou os comentários negativos do presidente Jair Bolsonaro (PSL) ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) no último fim de semana. "Esse caso do Inpe é coisa entre patético, absurdo e inacreditável, porque estamos falando de um projeto que vem acontecendo desde a década de 70", cravou o estudioso em entrevista à Rádio Jornal, nesta segunda-feira (22).
Ainda segundo Meira, os dados criticados pelo presidente são fundamentais para a população. "Desde 2002, tem todos os dados de fotos de satélite que qualquer pessoa pode baixar, comparar lugares que tinha árvore e que não tinha. Da década de 70 para cá, a Amazônia brasileira tem 4,1 milhões de quilômetros quadrados. Agora, ela tem 3,6 milhões. Ela perdeu 800 mil quilômetros quadrados de floresta, é alguma coisa de 40 ou 50 bilhões de árvores", completou.
A polêmica com o Inpe começou com declarações de Bolsonaro um dia depois de a imprensa destacar que dados do sistema Deter-B do órgão mostraram que a área perdida de floresta até meados deste mês já é a segunda maior da série histórica, medida desde 2015.
Bolsonaro criticou as taxas de desmatamento e afirmou suspeitar que o diretor do órgão, Ricardo Magnus Osório Galvão está "a serviço de alguma ONG". No mesmo dia, Galvão afirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que ficou escandalizado com as declarações do presidente.
"Se toda essa devastação que vocês nos acusam que estamos fazendo e que já foi feita no passado (sic), a Amazônia já teria sido extinta", disse Bolsonaro. "A questão do Inpe, eu tenho a convicção que os dados são mentirosos", afirmou. "Até mandei ver quem é o cara que está à frente do Inpe para vir explicar aqui em Brasília esses dados aí que passaram para a imprensa. No nosso sentimento, isso não condiz com a realidade. Até parece que ele está a serviço de alguma ONG."
Ao programa Passando a Limpo, Silvio Meira ainda saiu em defesa da permanência do atual diretor do órgão no cargo. "É uma pessoa que tem PHD no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), uma pessoa histórica", disse.
O desmatamento da Amazônia é calculado oficialmente pelo Inpe. Para isso são usados principalmente dois sistemas de monitoramento: um é o Deter, que detecta o desmatamento em tempo real e produz dados diariamente que servem para orientar a fiscalização do Ibama e o combate aos crimes ambientais. Esses alertas foram fundamentais para as ações que conseguiram reduzir a taxa de desmatamento em 80% de 2005 a 2012.
O outro é o Prodes, que fornece dados consolidados sobre o que desapareceu da floresta com corte raso entre agosto de um ano a julho do ano seguinte. É o sistema que oferece a taxa oficial de desmatamento da Amazônia desde 1989.