O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usou as redes sociais nesta segunda-feira (27), Dia Internacional de Lembrança do Holocausto, para destacar a "amizade sem precedentes" do Brasil "com Israel e com o povo judeu". O mandatário afirmou ainda que trabalha "para combater o anti-semitismo que, muitas vezes, se esconde por trás do anti-sionismo".
A declaração do presidente acontece no dia em que são lembrados os 75 anos da interrupção do extermínio no maior dos centros de concentração do regime nazista, Auschwitz, quando tropas soviéticas libertaram judeus do lugar.
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A fala vem também cerca de dez dias após seu ex-secretário nacional de Cultura, Roberto Alvim, parafrasear o chefe do Ministério da Informação e Propaganda na Alemanha nazista, Joseph Goebbels, em 16 de janeiro de 2020, ao divulgar o Prêmio Nacional das Artes. Por causa desse episódio, Alvim foi demitido pelo presidente. Menos quatro meses após a descoberta de Auschwitz, Goebbles assumiu o lugar Hitler, mas cometeu suicídio um dia após de tomar posse no cargo.
Em 27 de janeiro de 1945, quando o Exército soviético chegou a Auschwitz, o mundo recebeu em choque a confirmação de que os nazistas mantinham um gigantesco campo de concentração na Polônia. Em operação desde 1940, Auschwitz fazia parte de uma rede de extermínio lançada como parte da "solução final" de Adolf Hitler, que abriu caminho para o genocídio de 6 milhões de judeus.
Na verdade, os Aliados já haviam recebido informações sobre o genocídio de judeus. Em dezembro de 1942, o governo da Polônia no exílio, em Londres, apresentou um documento intitulado O extermínio em massa de judeus na Polônia ocupada pela Alemanha, incluindo relatos detalhados de membros da resistência polonesa. Mas o texto despertou suspeitas.
Para alguns sobreviventes, o pesadelo dos campos de concentração ainda está vivo. "Os soldados alemães nem precisavam mais apontar o dedo para enviar alguém para a câmara de gás", lembra Bronislawa Horowitz-Karakulska, de 88 anos, polonesa que ficou presa em Auschwitz aos 12 anos com sua mãe. "Quem parecia fraco, magro e ossudo era escolhido para morrer." Ela sobreviveu porque sua mãe subornou os guardas alemães com um diamante que ela conseguiu levar para o campo. "Havia muitos soldados, cães latindo, agitação, medo. Auschwitz foi um horror."
Nesta segunda-feira (27), muitos outros sobreviventes se reunirão em Auschwitz para lembrar a libertação do campo de extermínio, onde a Alemanha nazista matou mais de um milhão de pessoas, a maioria judeus. Chefes de Estado e de governo de 60 países e representantes de várias casas reais estarão no sul da Polônia para assistir às cerimônias, marcadas por disputas políticas e pela ausência de líderes das grandes potências.
Um dos principais ausentes será Israel, que realizou seu próprio fórum do Holocausto em Jerusalém, na semana passada, com a participação do vice-presidente dos EUA Mike Pence, do presidente francês, Emmanuel Macron, e do líder russo, Vladimir Putin. Nenhum deles estará nesta segunda em Auschwitz.