Ao retornar do exílio no Chile, no início dos anos 70, com a queda do governo de Salvador Allende e a implantação da ditadura Pinochet naquele país, Teresa Duere – acusada pela ditadura brasileira de fazer “guerrilha rural” em Pernambuco, teve que ficar alguns anos no Rio de Janeiro. Lá, morou um período na casa de uma amiga de infância com quem atuou no movimento bandeirante - escotismo –, para onde a conselheira e presidente eleita do Tribunal de Contas do Estado (TCE) foi levada por Zezita Cavalcanti, a ex-secretária de Dom Helder Câmara.
A amiga que a acolheu no Rio, a auditora fiscal da Receita Federal Carmem Fernandes, há anos morando em Olinda, e o marido José Maria, engenheiro aposentado da Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco), lembram a trajetória de Teresa Duere, e em especial aquele momento de “fragilidade emocional” da colega – sem deixar de ser também um momento de força.
“Ela chegou nesse momento de muita fragilidade, de estresse emocional forte. Sentia muita falta da família, estava longe deles (dos familiares). Mas não tocava muito no assunto (as acusações), guardava para ela. Teve até um problema gástrico, ficou se tratando, mas não dizia nada, não reclamava”, lembra Carmem Fernandes, que mantém firme a amizade com a conselheira e considera uma vitória pessoal sua chegada à presidência do Tribunal de Contas.
As duas tinham entre 12 e 13 anos quando se conheceram como ativistas do movimento bandeirante. Na entrevista ao JC, Teresa Duere lembrou que ingressou no movimento pelas mãos de Zezita Cavalcanti. Atuou na Operação Esperança, de reforma agrária, no Engenho Ipiranga, no Cabo de Santo Agostinho, de onde teve que sair em função das acusações dirigidas a Dom Helder de fazer “guerrilha rural”.
“Foi uma acusação injusta. Por que ela foi acusada? Porque fazia o bem”, diz a amiga Carmem Fernandes, lembrando a etapa que o País passava, com os ares de 64. “Ela procurava fazer o bem, junto com Dom Helder, não tinha nada disso (de guerrilha rural), sempre procurava dar o máximo de si para ajudar as pessoas”.
O casal lembra que Teresa Duere foi também líder estudantil e já trabalhava com o ex-arcebispo de Olinda e Recife, um dos nomes mais “incômodos” à ditadura militar implantada com o golpe de 64. “O movimento bandeirante tinha muito civismo, amor à pátria e muitas ações boas, de cooperação e companheirismo”, destaca a auditora com um saudosismo de quem carregará a experiência por toda a vida.
Da amiga da infância e do movimento, que no próximo dia 2 de janeiro, em solenidade agendada para às 17h, assumirá a presidência do TCE em substituição ao colega conselheiro Marcos Loreto, Carmem tem muitas outras lembranças. As duas viraram o que se chama de “comadres” – tanto que Teresa -em a madrinha de um dos filhos do casal Carmem e José Maria.