Em Timbaúba, o privado e o público se confundem. Antes de tornar-se prefeito da cidade, Marinaldo Rosendo (PSB) era o empresário. Dono de quase todos os negócios de sucesso no município da Mata Norte e à frente da distribuidora da Schincariol no Estado, o recém-nascido socialista foi o candidato a prefeito que declarou a maior quantia nas eleições de 2008, sua estreia na política, e na de 2012, a da reeleição. A mais recente declaração de bens (R$ 24.732.376,13) excede o repasse de 2012 a Timbaúba do Fundo de Participação Municipal (R$ 18.567.305,62). “Abraçado” com o governador Eduardo Campos (PSB), como diz o próprio, confirma ser “100%” candidato a federal em 2014.
A campanha para reeleger-se foi confortável. Não existe mais oposição declarada na Câmara Municipal. Uns oposicionistas não conseguiram renovar o mandato e outros se renderam à adesão. Hoje, as 13 vagas são ocupadas por partidos da situação. Marinaldo fala com orgulho sobre esse cenário. “Todos os 13 e suplentes foram do nosso grupo político. A oposição toda está sem mandato. Toda”, enfatiza. Na eleição municipal de 2008, desbancou a tradicional família Ferreira Lima, tirando Bartolomeu Ferreira Lima da cadeira de prefeito.
Apesar desse cenário totalmente favorável ao prefeito, uma situação curiosa está posta. Três vereadores novos, da base, têm feito críticas sistemáticas ao gestor. Um deles, inclusive, é do mesmo partido. Severino Gomes da Silva, Tiba, é presidente municipal do PSB e socialista histórico. A principal acusação é a falta de transparência. “Estamos apenas exercendo nosso papel, fiscalizando. E ele vai na rádio acusar a gente de fazer oposição e atrapalhar”, reclama Tiba.
A rádio Nova Timbaúba FM é do prefeito. Assim como os supermercados Novo Hiper, a agência de viagens NovaTur, uma empresa de reciclagem, a Nova Veículos LTDA. e o pátio de eventos Arena. Fala-se que, já na prefeitura, comprou vários terrenos ao redor da cidade. Ele nega. Na declaração de bens registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PE) em 2012, contam-se nove terrenos, situados principalmente no loteamento Araruna, região do polo industrial da cidade. Somados, valem mais de R$ 273 mil.
Homem de negócios, na ficha de inscrição da sua candidatura consta que possui o ensino médio completo. Apesar da fortuna, fala simples, veste-se simples. Mas tem gestos largos e risada alta. Até os oposicionistas concordam que ele não peca pela ostentação. “Não é por aí”, diz Jair Soares (PRTB), candidato a vice-prefeito na chapa adversária a Marinaldo em 2012. Enquanto o timbaubense exibe sua moto, meio de transporte comum na cidade, ele circula com carro blindado e seguranças.
Não vê contradição entre ser prefeito e dono do principal meio de comunicação do município. Utiliza constantemente a onda sonora para “prestar contas”. Já a rádio comunitária tem emprestado um espaço aos “opositores do momento”. Os vereadores Jacinto Ferreira Lima (PSB), Ulisses Felinto Filho (PR) e Tiba falam sempre aos sábados. “Como é que uma rádio comunitária está fazendo política de oposição? Pra está dizendo o que não deve dizer. Acho que rádio comunitária não é pra isso. Eu denunciei nos órgãos, inclusive”, disparou o prefeito.
Para ele, o trio é movido por interesses pessoais. Primeiro diz: “Queria (referindo-se aos três) que a prefeitura arrumasse 50 mil reais em emprego para o povo deles. Não faço isso”. Em seguida, se contradiz: “Desde 2008 que dou apoio a esse homem (Tiba). Passei esse tempo dando apoio a tudo que você possa imaginar, dei emprego ao povo que ele pediu. Como também a Ulisses, na campanha deles”.
Diz que não faz “arrumado político” e por isso é criticado. “A esposa dele (Tiba) é diretora do Ciretran. Podia questionar isso. Mas não. Então, isso não é um apoio? Porque se eu batesse o pé em cima quem dava o emprego do Estado dentro de Timbaúba era Marinaldo, prefeito do PSB, e não um simples presidente municipal do PSB, que nem mandato tinha”, ataca.
Orgulha-se das “benesses” que oferece aos timbaubenses. O “homem da Schin” em Timbaúba atribui a si o sucesso do último São João. Além de ser dono do terreno da festa, a Schincariol patrocinou bandas de peso, como Chiclete com Banana e Aviões do Forró. “Eu faço patrocínio, via minhas empresas, para viabilizar grandes eventos”, frisa.
Ele é do tipo de prefeito que esbanja uma doação de R$ 8 milhões ao município, que diz que paga bolsas para estudantes em escolas particulares e fornece ônibus gratuitos para universitários irem a cidades vizinhas. “A prefeitura dá (o ônibus a) Nazaré (da Mata) e Goiana. O prefeito não, mas o empresário Marinaldo dá (também a) Itambé, Carpina, João Pessoa, Recife e Macaparana”.