Estudantes do Recife reprovam governo Dilma, mas aprovam programas sociais

Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau ouviu 623 estudantes e constatou visões contraditórias quanto a ações do governo
Mariana Mesquita
Publicado em 03/11/2015 às 8:14
Foto: NE10


Um levantamento do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN) com 623 estudantes que fizeram o Enem no Recife, nos dias 24 e 25 de outubro, revela que 74,9% dos entrevistados consideram o governo Dilma Rousseff ruim ou péssimo. Apenas 6,2% consideraram o governo como ótimo e bom e 18,5% como regular. Os dados integram uma pesquisa ampla, que questionou os estudantes também cotas raciais e sociais, programas sociais do governo, redução da maioridade penal e o que pensam os jovens sobre o que é preciso para o País crescer (confira na arte).

Infográfico

Pesquisa do IPMN no Enem

Os números mostram que a avaliação do governo entre os estudantes recifenses é muito próxima da apurada em pesquisas nacionais. No último dia 6 de agosto, uma pesquisa do instituto Datafolha, realizada com 3.358 pessoas em 201 municípios, mostrou que 71% dos entrevistados avaliaram o governo como ruim e péssimo, 20% como regular e 8% como ótimo e bom. 

Apesar da forte reprovação do governo Dilma, a mesma pesquisa revela que os jovens recifenses defendem o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade para Todos (Prouni), cobram por mais concursos públicos, defendem a redução da carga tributária e rejeitam o Bolsa Família. Para o cientista político Adriano Oliveira, coordenador do estudo, as respostas dos estudantes mostram uma contradição.

“A agenda do PT continua viva no imaginário deles. Querem mais políticas sociais, mais gastos públicos e valorizam os programas criados pelo governo federal. Por outro lado, metade dos entrevistados rejeita o Bolsa Família. Para entender o motivo disso seria necessário fazer uma pesquisa qualitativa específica, mas é possível que enxerguem o programa como algo que incentive a preguiça, o oportunismo, a esmola”, analisa.

Embora 42,1% dos entrevistados pertençam às classes D e E, sendo potenciais beneficiários do Bolsa Família, na opinião do cientista político talvez eles identifiquem o programa como algo fora de suas realidades. “É um comportamento egoísta. Como a maioria deles não recebe o Bolsa Família, eles sentem que não têm nada a ver com isso. As pessoas tendem a só querer o que lhes beneficia diretamente, e isso é visível na forma como defendem o Prouni e o Fies”, explica.

Ao mesmo tempo, a questão da meritocracia, do crescer por meio do esforço individual, permeia os resultados. Os estudantes ouvidos são, em sua maioria, contra as cotas raciais nas universidades públicas e nos concursos, mas se dividem quando o critério passa a ser o social. “A exclusão para eles não passa pela raça, mas pela renda”, aponta Adriano. 

Os resultados refletem a ideia de que um título universitário é algo primordial para se ter uma boa vida. A dedicação aos estudos foi a campeã no ranking dos responsáveis pelo sucesso profissional, alcançando 44,6%. 

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