Há 23 anos, o Brasil vivenciava a derrocada do presidente da República Fernando Collor de Mello, hoje senador pelo PTB. Passadas mais de duas décadas, a Câmara dos Deputados trava severos embates sobre a deposição da presidente Dilma Rousseff (PT) e, no apagar das luzes de 2015, o País vive sob a incerteza de novo impedimento. Para os que presenciaram a história da cadeira do Congresso em 1992, os motivos para o impeachment da petista são mais graves do que no passado. Mas os ex-parlamentares, ouvidos pelo JC, avaliam que falta uma “fagulha” para a deflagração do processo: a movimentação das ruas.
Isolado na Câmara e sem base partidária para apoiá-lo, Collor recebeu 441 votos favoráveis à abertura do impeachment e 38 contra. Um dos contrários foi o deputado estadual Tony Gel (PMDB). Até hoje ele defende que não havia motivos para a deposição. “Naquela época, sim, foi tomada de poder, não um impeachment”, diz. Segundo o político, Dilma apresenta mais improbidade, porém o partido tem boa articulação no Congresso. “Os movimentos sociais também são cooptados pelo governo, então não vão às ruas pedir a saída”, avalia.
Favorável ao impeachment, o ex-governador de Pernambuco Gustavo Krause (DEM) defende o mecanismo como “medida extrema de retomada do poder”. Segundo ele, o momento reúne os elementos para desencadear o processo: “economia em crise, fato jurídico imputável e popularidade no chão”.
Presidente nacional do PPS, o deputado Roberto Freire cumpria mandato pelo PCB em 1992 e votou a favor da deposição. Afiado nas críticas, ele alfineta o governo do PT. “Em termos de corrupção, Collor seria julgado por tribunal de pequenas causas em comparação ao governo petista”. Freire traça um paralelo entre os períodos e diz que a derrocada do ex-presidente começou quando ele ficou isolado no Congresso. “Collor e aliados também diziam que era golpe e falavam em terceiro turno eleitoral. As críticas eram ao PT e a Lula, os mesmos que falam em golpe agora”, conta.
A comissão especial do impeachment de Collor era formada por 49 deputados. Entre eles, José Genuíno, Roberto Jefferson, José Dirceu e Hélio Bicudo (um dos autores do pedido de impedimento de Dilma).
Para o ex-deputado federal Maurílio Ferreira Lima, afastado da política, não há “nenhuma semelhança entre os dois períodos” e avalia o processo que corre na Câmara como “tentativa de golpe”. “Collor foi denunciado pelo irmão e ali se descobriu um grande projeto de corrupção. Agora, não há sustentação de desonestidade. O que há é uma recomendação do TCU. O clima nas ruas era voltado para o ‘Fora, Collor’. Agora, não há uma unanimidade.”
Em caso de afastamento de Dilma, o ex-governador Roberto Magalhães analisa que Michel Temer (PMDB) tem “experiência para buscar união nacional”. “Para a maioria dos brasileiros que desaprova a presidente, o impeachment pode ser a esperada luz na escuridão.”