O Recife foi cenário de manifestação contra o processo de impeachment que envolve a presidente Dilma Rousseff na tarde desta quarta-feira (16). Além disso, os movimentos sociais e partidos políticos que participaram do ato pedem o afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), envolvido em denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro. O vice-presidente Michel Temer e a política econômica do governo federal também foram alvos de protestos dos manifestantes. O ato aconteceu no mesmo momento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) fazia a análise do processo de impeachment de Dilma.
O ato foi organizado por movimentos sociais ligados à Frente Brasil Popular, Movimento dos Sem-Terra (MST), entre outros. A Polícia Militar afirmou que cerca de 4 mil pessoas — a maioria de camisas vermelhas, em alusão ao PT — foram à concentração do ato, na Praça Oswaldo Cruz, no bairro da Boa Vista, até o monumento Tortura Nunca Mais, na Rua da Aurora. Representantes da CUT, no entanto, afirmaram que a passeata contou com 30 mil manifestantes. Para a coordenadora da Frente Brasil Popular em Pernambuco, Gleisa Campigotto, o processo de impeachment contra Dilma Rousseff é, segundo ela, “um ataque à democracia recente do País”. O trânsito ficou caótico na Avenida Conde da Boa Vista, uma das principais do Recife, durante a passagem da manifestação, que contou até com trio elétrico e carros de som.
A presidente estadual do PT, Teresa Leitão, comemorou a adesão da população do Recife ao ato. “Isso é a resposta que os defensores do golpe precisavam ouvir. Esta é a reação que nós esperávamos. Não é a impopularidade do governo que justifica o impeachment”, afirmou. Já o deputado estadual Edilson Silva (PSOL) também fez coro ao que foi dito sobre a presidente, mas ressaltou que não apoia o governo federal. “Não estamos aqui para dar nenhum tipo de apoio ao governo, mas porque existe um golpe em andamento e nós queremos denunciá-lo”, frisou.
A vereadora Marília Arraes (PSB) também participou do ato e disse que a manifestação não aconteceu em prol do PT. "Não estamos aqui por partidarismo, apesar das camisas vermelhas. O ato é em defesa das instituições brasileiras, diferentes do ato a favor do impeachment. Aqui, ao contrário deles, estamos defendendo o País. O ato é importante para que o rumo do governo seja o que foi defendido na primeira campanha da presidente", afirmou a vereadora.
Para o estudante da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Sílvio Cadena o movimento foi em defesa da democracia. "Estamos vendo um prolongamento do segundo turno das eleições, além dos mandos e desmandos de Eduardo Cunha. Pelo menos eu sinto que uma ruptura entre o PT e o PMDB será muito benéfica", afirmou.
Os ex-prefeitos do Recife João da Costa e João Paulo, ambos do PT, também estiveram presentes na manifestação. Para João da Costa, o processo de impeachment "foi orquestrado pelo PMDB e pelo [Michel] Temer". "A população está percebendo que o golpe significa a perda de direitos conquistados na Constituição Federal. Já segundo João Paulo, o ato representa “uma insatisfação com os governos federal, estadual e municipal. Ainda de acordo com o superintendente da Sudene, o processo de impeachment não irá adiante. “Não acredito que vá prosperar porque isso gera uma instabilidade política e social muito grande. Por conta disso, acredito na força da democracia”, declarou.
Além desses, o vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira (PCdoB), também esteve na manifestação e afirmou que “não há nenhum crime que possa justificar o processo de impeachment. Se for aprovado, iria gerar consequências terríveis para o País”, disse.
O presidente da CUT-PE, Carlos Veras, reiterou que não houve qualquer tipo de apoio financeiro externo para os ônibus fretados pelos grupos sociais. “Basicamente, os movimentos sociais se organizaram e trouxeram as suas bases. Muitos, inclusive, vieram de forma voluntária”, falou. Segundo Veras, cerca de 30 ônibus vieram de toda a Região Metropolitana do Recife.