Cada vez mais próxima do núcleo político, a Operação Lava Jato também deve continuar movimentando Brasília no próximo ano. Coordenador da força-tarefa que investiga os desvios, o procurador da República Deltan Dellagnol anunciou às vésperas do Natal que um dos principais objetivos para o 2016 é triplicar o número de acusações formais contra os personagens investigados. Até agora, 179 pessoas foram acusadas judicialmente por crimes como corrupção, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
Para o ano que se inicia, Dellagnol também adiantou que pretende identificar mais contas no exterior que tenham sido irrigadas pelo esquema de corrupção na Petrobras e fechar o cerco contra empresas estrangeiras que estejam envolvidas com o esquema, ampliando os pedidos de cooperação internacional em vigor. Já foram repatriados R$ 659 milhões.
“Em 2015, a sociedade e as forças que apoiam o aprofundamento da investigação venceram aquelas que querem abafá-la – porque elas existem e não são poucas. A questão para mim é que em 2016 esse jogo recomeça”, avalia o cientista político Ricardo Ismael, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio). “Não é uma coisa trivial manter essa investigação na hora em que ela se aproxima do núcleo político e pode chegar em nomes que seriam os responsáveis pelo planejamento, alimentação e manutenção desse esquema”, alerta.
A Lava Jato tem um potencial explosivo ainda maior, porque a lista dos investigados inclui algumas das figuras mais importantes da República, como os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha, ambos do PMDB. Delações também levaram a suspeitas contra ministros próximos da presidente Dilma, como Aloizio Mercadante (Educação) e Edinho Silva (Comunicação).
Para Ismael, porém, a operação não pode ser vista como um fator de aprofundamento da crise política. “Ela resolve o impasse político porque ela consegue estabelecer uma distinção que hoje a gente não é capaz. A população hoje acha que todos os políticos são ladrões e começa a desacreditar da política. Uma parte dos brasileiros está naquela situação em que não acredita em mais em ninguém. E isso não é bom para quem gosta da democracia”, explica.