As recentes denúncias de tráfico de influência envolvendo o nome do ex-presidente Lula e seus familiares afetou a imagem do político frente ao público recifense, inclusive nas classes sociais mais beneficiadas pelo crescimento econômico experimentado no País durante os seus mandatos (2002-2010) – a chamada nova classe média. Apesar do processo de enfraquecimento do lulismo, mais de 35% dos recifenses mantêm o desejo de votar no ex-presidente. “É um percentual alto, principalmente no público da nova classe média (C e D). A maior rejeição está na classe média (B)”, classifica o professor da UFPE Adriano Oliveira, coordenador de pesquisa do Instituto Maurício de Nassau. “Apesar de ser alto, houve uma queda considerável, já que 76,2% dos recifenses afirmaram que já votaram nele.”
Os números foram revelados pelo Instituto Maurício de Nassau em pesquisa realizada na capital pernambucana nos últimos dias 15 e 16. Dos entrevistados, 23,4% disseram que nunca votaram nele.
O movimento de queda é percebido na maioria das classes sociais, menos nas pessoas da classe A, que manteve as respostas em 50% nos dois casos. “A classe A representa apenas 1% da amostra”, diz. A maior mudança, no entanto, aconteceu justamente na chamada nova classe média, que a pesquisa estratificou em C1 e C2. Juntando os dois grupos, tem-se o maior grupo, com 56% das pessoas. Desse total, cerca de 80% responderam que já votaram em Lula. No entanto, 70% afirmaram que não votariam no líder petista novamente, no grupo C1, enquanto que 55% da classe C2 disseram que também não repetiriam o voto. Nas classes D e E, que representam cerca de 14% dos recifenses, o percentual variou um pouco menos, mas, mesmo assim, dos 74% que disseram já ter votado em Lula, 51% declararam não ter mais interesse em votar de novo. Apesar disso, 46% das pessoas das classes C e E disseram que votariam em Lula de novo, e 43% do grupo C2 também o fariam. A maior rejeição está na classe média (B2). Somente 26% desse grupo se mostraram dispostos a dar voto a Lula.
A admiração das pessoas em relação ao político, tido pelos seus partidários como o melhor presidente que o Brasil já teve, também foi abalada. O maior baque aconteceu na classe C1, na qual 65% dos entrevistados disseram que já admiraram Lula, no entanto, hoje, apenas 29% continuam com a mesma opinião. Nos extremos das classes sociais, a admiração pelo político caiu de forma menos acentuada. Enquanto 61% dos mais ricos (classe A) disseram que já tiveram respeito pelo petista, hoje apenas 32% dizem manter essa opinião. No segmento mais pobre (classes D-E), a admiração caiu com menor força, de 64% para 51%.
Os pesquisadores também perguntaram se o ex-presidente é um político honesto. Neste caso, apenas 26,8% disseram que acreditam na idoneidade do petista, contra 65,5% que afirmaram que não confiam na lisura de Lula. Quem menos confia na honestidade do ex-presidente é a classe média. Apenas 20% das pessoas da classe B2 acham Lula honesto e 22%, da C1.
A pesquisa do Instituto Maurício de Nassau identificou ainda que 77,5% dos recifenses ficaram sabendo das denúncias que envolvem o nome do ex-presidente. Quando perguntadas quais são as denúncias, os entrevistados falaram até de casos em que Lula não estaria envolvido, como desvio de verbas (roubo). Os casos mais lembrados são o escândalo da Petrobras, com 9,8% das respostas e lavagem de dinheiro, com o mesmo percentual.
O Instituto Maurício de Nassau entrevistou 624 pessoas do Recife com 16 anos ou mais. A pesquisa tem nível de confiança de 95% e margem de erro de 4% pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança sugere que, em 95% dos casos, as pessoas responderiam da mesma forma. As classes sociais são definidas pelo padrão de renda e poder de consumo.