Discussão sobre crise e impeachment chega à sala de aula no Recife

Em meios ao debate acirrado nas ruas e redes sociais, alunos e professores aprofundam o conhecimento
Do JC Online
Publicado em 03/04/2016 às 8:01
Em meios ao debate acirrado nas ruas e redes sociais, alunos e professores aprofundam o conhecimento Foto: Ricardo Labastier/ JC Imagem


Criança e adolescente vestindo vermelho ou verde e amarelo. Gritando “Fora Dilma!” ou “Não vai ter Golpe!” Em meio à enxurrada de opiniões divergentes sobre a crise política no Brasil e às manifestações nas ruas e redes sociais a favor e contra o afastamento da presidente da República, sobrou para a escola dar equilíbrio no debate e fazer muito bem o que cabe a ela: ensinar os alunos a buscar informação, construir o conhecimento e exercitar a tolerância diante de ideias diferentes, o que tanto se preza numa democracia.

O professor Erinaldo Ferreira, de Política e Sociedade no ensino médio do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), defende o processo de educação sem partidarismo. Não que o professor e cada aluno não tenham suas ideologias e preferências partidárias. Mas na hora do debate na sala de aula, o que importa é revisitar a história, conhecer as leis, buscar argumentos, refletir sobre o que chega pelas diferentes redes de informação. Cabe ao professor, explicar, conduzir uma discussão sem paixão.

“No direito, por exemplo, as coisas não são tão exatas como na matemática”, diz, referindo-se às diferentes interpretações da lei que justificam e condenam o pedido de afastamento da presidente Dilma Rousseff. A condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também suscitou questionamentos e argumentações, assim como a escuta telefônica, a pedido da Justiça Federal, que envolveu fala da presidente, vazada para a mídia.

Desde o início do ano letivo, o professor Erinaldo tem mexido na programação de conteúdo, antecipando os assuntos e as novas demandas. “Eles chegam na escola com informações da mídia. Uns grupos se baseiam na televisão e outros nas mídias alternativas”, comenta. Os alunos têm muitas dúvidas e curiosidade. Os fatos têm despertado mais interesse por política. 

“Na minha família, há muita discussão política. Não há como ter opinião fundamentada se a gente não estudar”, diz Gabriel Magalhães, 16, do segundo ano. “Uma coisa é você dizer que não tem opinião ainda entre os dois lados, outra é dizer que não liga para política, isso é preocupante”, comenta Mariana Clara Torres, 16. Os colegas Gabriela Calábria, 15, e Marco Antônio Barbosa, 16, lembram o quanto a vivência anterior, na escola, assim como o debate em família, ajudam na formação política e faz compreender melhor o momento atual. 

O professor Sérgio Ramos, de filosofia, observa que a reflexão para cidadania é uma constante na escola. No Centro Educacional Lubienska, a diretora pedagógica, Rosário Azevedo, conta que democracia faz parte do conteúdo escolar. Nesse ano, o tema, que seria tratado no segundo semestre, acabou sendo antecipado e está incluído em diferentes disciplinas, de história à redação. “Temos alunos bem ativistas, mas outros estavam alheios”, comenta. 

Os amigos Pietra Cavalcanti, 14, Bruno Lucas, 17, George Henrique Pereira, 17, Rodrigo Augusto, 17, Rafaela Lins, 16 e Caio Nunes, 17, estão entre os que gostam de discutir e se informar sobre política. “Nós temos que votar, buscar novas alternativas. Precisamos estar bem informados”, diz George.


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