Uma casa no Lago Sul de Brasília foi o "bunker" escolhido por parlamentares insatisfeitos com a condução do governo da presidente Dilma Rousseff (PT), que costuraram o impeachment da petista. A residência do deputado federal Heráclito Fortes (PSB-PI) reuniu durante um ano o núcleo duro do processo, chamado "G-8", que tem tido ascensão meteórica. Apesar da sigla, passaram pelos jantares, pelo menos, uma centena de parlamentares.
De opositores, alguns dos integrantes de primeira hora do círculo tornaram-se ministros do governo de Michel Temer (PMDB), como os pernambucanos Bruno Araújo (PSDB), Mendonça Filho (DEM) e Raul Jungmann (PPS). Os dois últimos enfrentaram derrotas acachapantes. O democrata ficou em quarto lugar na disputa pela Prefeitura do Recife, em 2012. Hoje comanda o quarto maior orçamento da Esplanada. Raul não conseguiu se eleger deputado federal, em 2014, e assumiu a vaga como suplente, em fevereiro do ano passado. Os dois viram os partidos desidratarem durante as gestões do PT. Agora, voltam à cúpula do poder.
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A conquista mais recente do grupo foi a vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara. O democrata também era membro do G-8. No grupo restrito, que se reúne até hoje, estão ainda os deputados Jarbas Vasconcelos (PMDB) e Tadeu Alencar (PSB).
Bem cotado com Temer, o núcleo manteve encontro frequentes desde abril de 2015 e, um dia antes da votação do impeachment, almoçou com o ainda vice-presidente.
Mesmo após o afastamento da presidente Dilma Rousseff, os deputados mantêm regularidade nos encontros. Em junho último, Rodrigo Maia e o ministro Mendonça Filho estiveram juntos em Gravatá, no São João da cidade. Na pauta, entraram as costuras para a presidência da Câmara.
Gregário, Heráclito Fortes foi o responsável por estimular os encontros e debates. Ele conta que a motivação foi o ambiente "tóxico" da Câmara dos Deputados, conduzida por Eduardo Cunha.
"O ambiente na Câmara estava irrespirável. Cunha tratava somente com o centrão. Nesse ponto, ele deixou de ter o comportamento de presidente de um colegiado, o clima era de autoritarismo", conta Tadeu Alencar. Ele destacou a importância da união do grupo, formado por integrantes do PSB, DEM, PSDB e PPS para eleição de Rodrigo Maia na Câmara.
"Por sorte nossa, alguns dos participantes do grupo terminaram saindo ministros e até agora o presidente da Câmara", disse Fortes, destacando que o núcleo não é um bloco partidário.
Rodrigo Maia (DEM) assume presidência da Câmara após 13 anos do DEM longe do poder. Foto: Câmara dos Deputados
RETOMADA
A vitória de Rodrigo Maia deu ao DEM o protagonismo na Câmara dos Deputados, após 13 anos de ostracismo, época em que o partido mudou de nome, definhou nas fileiras da oposição ao governo do PT e quase desapareceu.
O último filiado a comandar a Casa foi o deputado federal Efraim Morais, da Paraíba, entre os anos de 2002 e 2003. Na época,o partido ainda se chamava PFL (Partido da Frente Liberal).
Nos anos 1990, o partido comandou a casa legislativa, em duas ocasiões com Inocêncio Oliveira (1993-1995) e Luís Eduardo Magalhães (1995-1997), morto em 1998, e que foi lembrado por Maia, em seu discurso, como exemplo de presidente da Câmara. Na ocasião, a sigla foi uma das maiores legendas na Câmara e no Senado.
Em 2007, o partido buscou renovação ao mudar o nome. Já sem os grandes líderes, que debandaram em meio ao desprestígio político, o Democratas abriu espaço para líderes jovens. Entra aí, Rodrigo Maia, que foi o primeiro presidente do DEM.
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