Do Recife Alto Astral à Linha Verde: o Recife dos anos 90 sob as gestões de Jarbas e Roberto Magalhães

Quando eleito, em 1996, Roberto Magalhães se comprometeu a fazer uma gestão de continuidade a do antecessor e aliado Jarbas Vasconcelos
Marcela Balbino e Paulo Veras
Publicado em 19/08/2016 às 12:36
Foto: ED FERREIRA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE


Na tentativa de recuperar a “autoestima” do recifense, nascia em 1993, durante a gestão de Jarbas Vasconcelos, a campanha “Recife alto astral”. O coquinho verde sorrindo era a principal peça publicitária, idealizada pelo sociólogo Antônio Lavareda. Qualquer semelhança com o momento atual não é mera coincidência. Em 2013, o prefeito Geraldo Julio lançou a campanha “Eu amo o Recife”.

“No meu tempo, eu cuidava da prefeitura como quem cuidava da casa. Me lembro de receber um telefonema de um morador de Boa Viagem dizendo que discordava do Recifolia, mas ele comentava que de manhã não havia lixo na rua. Eu ficava lá depois da festa para acompanhar e esperar a Emlurb chegar para limpar”, conta o então prefeito Jarbas Vasconcelos.

No segundo mandato na Capital, Jarbas atingiu índices altos de aprovação. Em 1996, último ano da gestão, o ranking do Datafolha o colocava como melhor prefeito do Brasil por meses seguidos.

Entre as principais marcas da gestão jarbista, estão o incentivo ao turismo, com a criação dos polos gastronômicos do Pina e a revitalização do Recife Antigo. A estratégia do então prefeito era revitalizar a antiga Rua dos Judeus, no Bairro do Recife, para transformá-la em uma área boêmia e turística.

“O projeto era para uma rua só (Bom Jesus) e o resto vem por atração”, lembra. “Nós corremos risco, porque fiz o lobby com os empresários para atrai-los ao local. Fiz reunião com mais de cem empresários para dizer que se eles investissem eu daria isenção de IPTU. Cuidamos de recuperar as árvores, fazer poda adequada. Era uma atenção permanente. O turismo disparou no período”, rememora o ex-gestor, criticando o abandono do projeto pelas gestões posteriores.

 

"LINHA VERDE", PONTE DO IMIP: RELEMBRE PRINCIPAIS FATOS DA GESTÃO ROBERTO MAGALHÃES

Eleito com a missão de dar continuidade à bem avaliada gestão jarbista, Roberto Magalhães teve um governo marcado por controvérsias e embates com a oposição. No início da gestão, Magalhães era claramente pró-Fernando Henrique Cardoso, a quem apoiou nas eleições presidenciais, em 1994, mas acabou o governo ressentido com a falta de recursos do governo federal.

“Quando Arraes foi governador, eu e ele fizemos acordo para privatizar parte da Compesa, mas Fernando Henrique prometeu R$ 80 milhões, depois R$ 60 milhões, depois caiu para R$ 40 milhões e não veio nada. Perdemos um tempo enorme, íamos e voltávamos a Brasília”, relembra o gestor. Um dos projetos idealizados na gestão dele foi a Linha Verde, que só saiu do papel no início deste ano, com a inauguração da Via Mangue. 

Outra obra bastante controversa foi a construção da ponte-viaduto Joaquim Cardoso, que serviu como combustível para a oposição à época. A obra une o bairro dos Coelhos ao Coque. Os opositores colocavam em xeque a viabilidade e o custo da intervenção.

“A oposição criticou muito, mas eu construí e não me arrependo, porque João Braga (candidato à época), que é um homem que conhece muito o Recife, me disse que essa ponte tem muito futuro, apenas tinha sido construída 10 anos antes de ser necessária”, defende. O Complexo Viário Joana Bezerra foi uma das marcas da administração dele.

“A gestão do prefeito Roberto Magalhães teve seu foco nas grandes obras estruturadoras, priorizando aberturas de vias e construções de viadutos, imprimindo uma forma tradicional de governar a cidade”, analisa Iracilde Silva de Souza, mestre em Desenvolvimento Urbano pela UFPE. Em dissertação do mestrado, ela pesquisou as gestões municipais entre 1993 e 2004.

Na área de Educação, o ex-prefeito se orgulha de ter implantado o Bolsa-Escola, em 1997. “Fui o primeiro prefeito do Nordeste a implantar a Bolsa-Escola, na sequência do governador de Brasília, Cristovam Buarque”, disse, acrescentando que as gestões do PT no Recife nada fizeram pelo programa. “Não tive notícias da Bolsa-Escola. A única notícia é que ninguém mais sabia que eu tinha colocado aquilo lá”, acrescenta.

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